Estudo sobre a escravidão no Brasil derruba mitos a partir da história dos anônimos e de suas relações mais próximas

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segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Dupla de pesquisadores parte da ‘história da vida privada’ para resgatar novas faces do casamento, da família e das relações de parentesco escravo

Por muitos anos se acreditava que as relações familiares entre os escravos eram nulas ou pouco representativas, sendo as senzalas local de promiscuidade. O próprio Jean-Baptiste Debret, em seu livro Viagem histórica e pitoresca ao Brasil, dizia que nas grandes propriedades tinha-se por hábito “reservar uma negra para cada quatro homens”. Agora, os pesquisadores Manolo Florentino e José Roberto Pinto de Góes derrubam esses e outros mitos em A paz das senzalas: famílias escravas e tráfico atlântico, Rio de Janeiro, c. 1790-c. 1850, lançamento da Editora Unesp. 

“A sociedade escravista não julgava crime separar pais de filhos escravos, irmãos ou esposos cativos. Mas sabia que parte substancial da escravaria era uma intrincada rede de vínculos parentais e não conseguia sequer imaginar que pudesse ser diferente”, escrevem os autores. 

Florentino e Góes informam aos leitores que o trabalho, segmentado em dez capítulos ao longo de três partes, já nasce de certa fase do conhecimento historiográfico no qual a existência em si das relações familiares entre os cativos não é mais considerada um problema. “Vale a pena, contudo, fixarmos alguma atenção sobre um aspecto que, há cerca de vinte anos, impedia os historiadores de conhecer as famílias escravas”, anotam. “Elas eram tidas como economicamente inviáveis.” 

“O casamento escravo, o nascimento de uma criança em cativeiro e a formação de famílias sacramentadas serviam aos interesses dos senhores que buscavam a 'paz das senzalas'”, registra a professora titular do Departamento de História da USP, Maria Luiza Marcilio, na orelha do livro. “Mas serviam igualmente ao escravo que, através dos laços de parentesco e solidariedade em grupos do interior das senzalas, encontrava o entendimento mútuo, o que lhe acorria diante dos embates da dura opressão dos senhores." Dessa maneira, “com o instrumental fornecido pela demografia histórica, foi possível a revelação de realidades humanas do passado antes insuspeitáveis”. afirma.

Sobre os autores – Manolo Florentino é professor do Instituto de História do Departamento de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Autor de diversas obras, teve seu Em costas negras (Prêmio Arquivo Nacional 1993) publicado pela Editora Unesp em 2015. José Roberto Pinto de Góes é professor adjunto da UERJ. É autor de O cativeiro imperfeito: um estudo sobre a escravidão no Rio de Janeiro da primeira metade do século XIX (1993). 

Título: A paz das senzalas: famílias escravas e tráfico atlântico, Rio de Janeiro, c. 1790-c. 1850
Autores: Manolo Florentino e José Roberto Pinto de Góes
Número de páginas: 211
Formato: 14 x 21 cm
Preço: R$ 42,00
ISBN: 978-85-393-0684-8

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp