Estudos de Adorno sobre autoritarismo e preconceito ganham nova tiragem

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quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Seria possível um fenômeno análogo ao nazifascismo em um país democrático como os Estados Unidos? A questão é o mote de Estudos sobre a personalidade autoritária, de Theodor W. Adorno, lançado pela Editora Unesp em 2019 e que acaba de ganhar nova tiragem. O livro apresenta uma minuciosa seleção de textos baseados na obra original de quase mil páginas intitulada The Authoritarian Personality, escrita por Adorno, Levinson, Sanford e Frenkel-Brunswik e publicada em 1950 nos Estados Unidos.

A obra é um marco no desenvolvimento do pensamento de Adorno, podendo ser considerada uma das mais significativas de psicologia social já escritas. Ao longo de suas 597 páginas, os textos selecionados debatem como, em plena Segunda Guerra Mundial, o fascismo não era um episódio isolado, mas estava presente de forma latente em amostras da população norte-americana da época. Sua base de argumentação procura expor como o autoritarismo mantém relações profundas com o clima cultural geral do modo capitalista de organização socioeconômica. “O contexto de preconceito antissemita nos Estados Unidos, que contava com mais de 4 milhões de judeus (3,5% da população nacional) era notável, a intolerância coexistindo paralelamente aos princípios da democracia”, aponta a organizadora da tradução Virginia Helena Ferreira da Costa, na apresentação à edição brasileira. 

“Na tarefa de procurar a presença de opiniões, atitudes e valores autoritários em plena democracia, os autores não encontraram muitos casos de pessoas abertamente antidemocráticas, mas identificaram traços de potenciais fascistas em indivíduos que seriam suscetíveis à propaganda ideológica autoritária”, explica. Dessa forma, consideram que o apoio a tais ideologias poderia passar de um estado latente e velado e muitas vezes não consciente para uma defesa aberta e ações violentas contra minorias em momentos específicos de crise social. “Para tanto, os autores procuram encontrar quais seriam as gratificações na economia emocional e pulsional subjetivas envolvidas na identificação com ideologias autoritárias”, completa.

A seleção de textos segue a edição alemã das obras completas de Adorno, publicadas pela Suhrkamp no volume 9, composta pelos capítulos assinados por todos os autores do livro  ̶  o I (descrição do problema, metodologia, técnicas utilizadas e procedimentos de coleta de dados) e o VII (A mensuração de tendências implicitamente antidemocráticas);  ̶  e os capítulos exclusivos de Adorno: o XVI (Preconceito no material das entrevistas), o XVII (Política e economia no material das entrevistas), o XVIII (Alguns aspectos da ideologia religiosa revelados no material das entrevistas) e o XIX (Tipos e síndromes). 

“De forma geral os resultados demonstraram que o sujeito potencialmente fascista e mais etnocêntrico está longe de ser raro.[...]. Os considerados mais preconceituosos se identificaram com conteúdos relacionados a algumas ideologias antidemocráticas circulantes na cultura, constituindo um conjunto ideológico que, muitas vezes, apresenta contradições entre si.” A base de sua argumentação e suas técnicas de pesquisa preservam a atualidade dessa investigação.

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp
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