Estudos de Adorno sobre autoritarismo e preconceito recebem segunda edição

Uma das obras mais significativas de psicologia social analisa como, durante a Segunda Guerra Mundial, o fascismo estava presente na população norte-americana

Em um cenário global de ascensão da extrema direita, a reedição pela Editora Unesp de Estudos sobre a personalidade autoritária resgata a urgente questão proposta por Theodor W. Adorno: é possível um fenômeno equivalente ao nazifascismo em democracias estáveis? Publicada originalmente em 1950 como The Authoritarian Personality – fruto da colaboração entre Adorno, Levinson, Sanford e Frenkel-Brunswik –, a obra investiga as raízes psicológicas e sociais do autoritarismo, tema que se revela crucial ante a expansão de regimes iliberais e a radicalização política em países como Hungria, Itália, Brasil e EUA.

Esta edição, que condensa os textos fundamentais da pesquisa original (quase mil páginas), oferece chaves para entender os mecanismos que sustentam a intolerância, o negacionismo e a adesão a lideranças autocráticas. Num contexto em que discursos de ódio e ataques às instituições desafiam a democracia, a obra de Adorno transcende sua dimensão histórica, transformando-se em um alerta para os perigos contemporâneos.

Com 597 páginas de textos selecionados, a obra demonstra como o fascismo – longe de ser um episódio circunscrito à Segunda Guerra – manifestava-se de forma latente na sociedade norte-americana. Adorno explora as conexões entre autoritarismo e a lógica socioeconômica capitalista, analisando, por exemplo, o paradoxo do antissemitismo nos EUA (que abrigava 4 milhões de judeus, 3,5% da população) em meio a um sistema democrático.

Como destaca Virginia Helena Ferreira da Costa na apresentação da edição brasileira, os autores não encontraram indivíduos declaradamente antidemocráticos, mas identificaram traços de potencial fascista em personalidades suscetíveis a propaganda autoritária. Essas tendências, muitas vezes latentes e inconscientes, poderiam se tornar explícitas – e violentas – em crises sociais.

A pesquisa busca decifrar, ainda, as "gratificações emocionais" que levam à identificação com ideologias de extrema direita.

A seleção segue a edição alemã das obras completas de Adorno (Suhrkamp, volume 9), incluindo capítulos coletivos (metodologia e medição de tendências antidemocráticas) e textos exclusivos de Adorno sobre preconceito, ideologia religiosa, política econômica e tipologias autoritárias. Os resultados revelaram que sujeitos etnocêntricos e propensos ao fascismo não eram raros. Esses indivíduos assimilavam ideologias antidemocráticas contraditórias, reflexo de um contexto cultural específico – padrões que permanecem atuais. A sofisticação metodológica e a profundidade da análise garantem a permanência da obra como referência para entender os autoritarismos do século XXI.

Em um momento em que movimentos de extrema direita ressurgem com força em diversas partes do mundo, questiona-se: seria possível um fenômeno análogo ao nazifascismo em democracias consolidadas? Essa inquietação, mais atual do que nunca, é o ponto de partida de Estudos sobre a personalidade autoritária, de Theodor W. Adorno, que ganha sua segunda edição pela Editora Unesp em um contexto de crescente polarização política e ascensão de discursos antidemocráticos.

Sobre o autor – Theodoro W. Adorno (1903-1969) foi um filósofo alemão e um dos principais teóricos da cultura. Fez parte da corrente conhecida como Escola de Frankfurt, ao lado de Max Horkheimer, Walter Benjamin e Jürgen Habermas.

Título: Estudos sobre a personalidade autoritária - 2ª edição
Autor: Theodor W. Adorno
Tradução: Virginia Helena Ferreira da Costa, Francisco López Toledo Corrêa e Carlos Henrique Pissardo
Número de páginas: 597
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 110
ISBN: 978-65-5711-298-4

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