Habermas
Fé e saber, de Jürgen Habermas, que acaba de ganhar nova tiragem, reproduz um discurso do filósofo proferido cerca de um mês após o 11 de setembro de 2001. Embora circunstancial, é de grande importância no conjunto da obra do pensador que, ao retomar o clássico tema fé e saber, adota uma nova expressão – “pós-secular” – que imprime mudanças em sua teoria da modernidade e torna-se presente em suas obras posteriores.
Para Habermas, o novo milênio está culturalmente dividido entre duas tendências opostas: uma propaga imagens de mundo naturalistas; outra revitaliza de modo inesperado comunidades de fé e tradições religiosas, politizando-as em escala mundial. A partir desta percepção ele propõe uma reavaliação da tese da secularização, passando a questionar o secularismo como visão de mundo. O pensador permanece fiel, porém, às proposições pós-metafísicas e seculares do pensamento moderno.
Assim, a expressão “pós-secular” não traduz uma alternativa à pós-metafísica que norteia a modernidade. Esta permanece “secular”. “Pós-secular” remete a uma mudança de mentalidade das sociedades secularistas, que se tornam conscientes da inevitabilidade do convívio com as religiões, as quais, admite o filósofo, permanecem na cena como atores sociais importantes. A era pós-secular nada mais significa, então, do que o reconhecimento de que se tornou impossível à estrutura secular seguir adiante sozinha.
“Para Habermas, o pensamento pós-metafísico deve adotar uma atitude simultaneamente agnóstica e receptiva diante da religião, ou seja, que se oponha a uma determinação estritamente secularista das razões publicamente aceitáveis sem, com isso, comprometer sua autocompreensão secular”, escreve, na apresentação do livro, Luiz Bernardo Leite Araújo.
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