Filme nunca concluído de Orson Welles sobre o Brasil ganha estudo revelador

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segunda-feira, 29 de abril de 2024

Cineasta veio ao País para realizar filme de propaganda do Brasil, como embaixador da “Política de Boa Vizinhança” do presidente Roosevelt, que visava aproximar os países latino-americanos contra o Eixo

Orson Welles (1915-1985), com apenas 26 anos e já com duas obras-primas aclamadas (Cidadão Kane e Soberba), desembarcava no Rio de Janeiro em 1942 para filmar o Carnaval. Trouxe consigo um equipamento inédito fora de Hollywood na época, o pesado sistema de filmagem Technicolor, com o objetivo de capturar toda a energia desse evento marcante. É para examinar este projeto nunca concluído – parte do esforço da “Política de Boa Vizinhança”, instituída pelo presidente Roosevelt – que vem a lume It’s All True: A odisseia pan-americana de Orson Welles, da pesquisadora Catherine L. Benamou e ora lançado pela Editora Unesp.

“A produção do filme de Welles foi impulsionada pela Política da Boa Vizinhança durante a Segunda Guerra Mundial, e mais especificamente pelo esforço de abrir o mercado latino-americano para produtos de Hollywood, aumentar a presença ‘latina’ nesses produtos e impedir a expansão da propaganda do Eixo no continente americano”, explica a autora na apresentação. “Welles sonhava com a possibilidade de alimentar um diálogo não apenas entre países em tempo de guerra, mas entre povos, retratando a expressão musical (“Carnaval”) e artesanal (“Jangadeiros”), complementada por uma trilha sonora composta por Heitor Villa-Lobos e os maiores sambistas da época”, comenta Benamou.

“Como é bem sabido agora, nesse esforço, Welles contrariou as expectativas da RKO Radio Studios e excedeu as do Escritório do Coordenador dos Assuntos Interamericanos (Ociaa), que havia articulado a visita de Welles como embaixador da Boa Vizinhança. Em vez de uma apropriação cultural, inserindo amostras da cultura local num molde genérico de Hollywood, Welles buscou estabelecer uma colaboração com artistas e intelectuais tanto no México como no Brasil, e assim encontrar uma linguagem apropriada para comunicar a diversidade cultural de ambos os países e criar uma narrativa do ponto de vista de personagens populares, a ser apreciada por um público latino-americano, em primeiro lugar.”

Ao longo de mais de quinhentas páginas, Benamou busca revelar os bastidores das pesquisas e da colaboração que culminaram nas filmagens, investigar as razões por trás da interrupção da produção do filme em 1942, dar voz às perspectivas mexicanas e brasileiras na história do filme, analisar o impacto do filme na obra posterior de Welles e explorar as conexões intertextuais do projeto com o cenário cinematográfico contemporâneo e atual em âmbito mundial.

It’s All True nunca foi concluído, apesar do empenho do seu diretor”, registra Caros Augusto Calil nas orelhas da obra. “Catherine L. Benamou dedicou sua tese de doutorado à reconstituição deste projeto. Pesquisando nos três países, entrevistando sobreviventes e parentes, visitando arquivos, assistindo ao material acessível do filme, promoveu uma extensa pesquisa (1987-2007) que nos coloca diante de um filme sequestrado, que ela ajudou a revelar. Apesar do atraso, é com alívio que finalmente incorporamos este estudo valioso à bibliografia brasileira.”

Sobre a autora – Catherine L. Benamou é professora titular do Departamento de Cinema e Estudos de Mídia da Universidade da Califórnia em Irvine. Publicou também Transnational Television and Latinx Diasporic Audiences: Abrazos Electrónicos in Four Global Cities (2022).

Título: It’s All True: a odisseia pan-americana de Orson Welles
Autora: Catherine L. Benamou
Tradução: Fernando Santos
Número de páginas: 502
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ 98
ISBN: 978-65-5711-148-2

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