Francês refuta teorias que apregoavam a extrema sensação de dor que persistia após a separação entre cabeça e corpo pela lâmina, ao mesmo tempo em que se posiciona contra o terror do método
Se por um lado a Revolução Francesa consagrou-se por ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, de outro imortalizou em suas pinturas o uso da guilhotina como instrumento máximo de punição a todos os inimigos do novo regime da França. Mas, mesmo à época, havia aqueles que se opunham a ele, como o médico, filósofo e fisiologista Pierre-Jean-Georges Cabanis (1757-1808). Em seu Sobre o suplício da guilhotina, lançamento da Editora Unesp, ele discute o terrível espetáculo da guilhotina a partir de sua própria concepção da fisiologia, utilizando-a para refletir sobre os limites da república, que se põem, justamente, na manutenção da fisiologia dos grupos de indivíduos que a formam.
“Desde o 9 do Termidor e a queda de Robespierre, instalara-se uma discussão – não só na França, mas em toda a Europa – acerca da pertinência do uso da guilhotina”, registra o organizador da obra, Bruno Rates. “A intervenção de Cabanis pode ser considerada, a justo título, como a sua estreia na arena filosófica europeia, que a essa altura se tornara indissociável de tudo o que dissesse respeito à Revolução. O Magasin Encyclopédie abrigou um bom número de textos que se declaravam contrários à utilização desse método de execução. É importante notar que, desde o início, a discussão se põe no terreno da fisiologia, e não da moral, pois, com algumas exceções, entende-se à época que esta última depende, em alguma medida, da primeira.”
Havia aqueles, como Oelsner e Sömmering, contrários à guilhotina por acreditarem que, mesmo depois que a cabeça era separada do corpo, o condenado ainda sentia dor extrema. Cabanis refuta essas explicações. “Desde que o 10 do Termidor nos restituiu a liberdade de expressão e de imprensa, todos aqueles que trazem no coração algum sentimento de humanidade se elevaram com veemência contra os assassinatos jurídicos com que a tirania decenviral recobriu a França”, escreve. “Nos últimos tempos, alguns escritores tentaram voltar a indignação pública contra o próprio gênero do suplício, que eles consideram demasiadamente doloroso, e, a partir desse ponto de vista, reivindicaram a sua supressão. Reúno minha voz aos clamores dos srs. Oelsner e Sömmering e do cidadão Sue, e louvo o sentimento que parece tê-los orientado. Mas, reconheço francamente, não posso compartilhar da opinião que o fundamenta, e, como nenhum dos maîtres de nossas escolas elevou a voz para combatê-lo, pareceu-me que deveria oferecer aqui algumas observações apropriadas a desfazer a confusão em torno desse ponto.”
Para o organizador do texto, muitos cometem o erro de ver em Cabanis um filósofo menor. “Não esqueçamos a importância de suas ideias para uma nova tradição política republicana, ora dita ‘liberal’, ora ‘radical’ – que Cabanis inflete na direção de uma reflexão sobre os princípios da administração pública e do bem-estar das populações. Daí, inclusive, a afirmação com que fecha o texto do Suplício da guilhotina, declarando-se contra a pena de morte, que, em sua opinião, nunca impediu crime algum, e constitui um atentado contra todos os dotes que a espécie recebeu da natureza.”
Sobre o autor – Pierre-Jean-Georges Cabanis (1757-1808) foi um médico, filósofo e fisiologista francês conhecido por suas contribuições para a compreensão da mente humana e do funcionamento do sistema nervoso.
Título: Sobre o suplício da guilhotina
Autor: Pierre-Jean-Georges Cabanis
Organização: Bruno Rates
Tradução: Pedro Paulo Pimenta
Número de páginas: 188
Formato: 11,5 x 18 cm
Preço: R$ 74
ISBN: 978-65-5711-197-0
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