Crítico inglês, dos mais proeminentes no mundo anglófono, traz considerações sobre como o prazer estético e a mudança levam à substituição, condenação e revisão de textos considerados canônicos
O que define o cânone? Ou melhor, quem define o cânone e as mudanças que ocorrem nele ao longo dos tempos? O que faz um texto, outrora julgado vulgar ou inadequado, ser posteriormente promovido ao status de canônico? Seria a noção de cânone um mito perverso, concebido para justificar a opressão das minorias? Em busca de palmilhar respostas a estas instigantes perguntas, Sir Frank Kermode traz a lume Prazer e mudança: a estética do cânone, lançamento da Editora Unesp.
“Uma das virtudes das propostas de Kermode quanto ao pensar no que torna as obras literárias canônicas é que, em vez de se envolver de maneira polêmica com a definição ideológica do cânone (uma disputa que tem sido travada com muita frequência), ele simplesmente se esquiva dela, talvez por ser indigna de debate, e trata de apresentar um conjunto diferente de termos”, anota na introdução o professor de Hebraico e Literatura Comparada na Universidade da Califórnia em Berkeley Robert Alter, organizador da obra. “Dois de seus três termos centrais – prazer e mudança – aparecem como títulos de suas duas palestras, e o terceiro é acaso.”
O livro que o leitor tem em mãos nasceu de duas palestras desenvolvidas no âmbito das Tanner Lectures sobre Valores Humanos, em edições realizadas na Universidade da Califórnia, Berkeley, e de respostas elaboradas pelos críticos literários Geoffrey Hartman e John Guillory e pela dramaturga e diretora artística Carey Perloff. Os escritos de Kermode discutem como o prazer estético pode definir o que se acredita ser valioso ou não no âmbito das obras literárias e o quanto esses parâmetros são alterados com o passar dos anos. A partir deste raciocínio e também das réplicas dos debatedores, concorde-se ou não com as ideias expostas, fica atestado o teor polêmico e politicamente carregado de todas as intervenções.
“Durante esta conversa, tentarei explicar como o prazer pode entrar em uma discussão sobre cânones. Esse é um propósito desta primeira conferência, e, se eu conseguir alcançá-lo, não terei dificuldade para discutir Shakespeare em minha segunda palestra”, comenta Kermode no início de sua conferência. "A verdadeira dificuldade é o tópico do cânone não ser em si uma fonte óbvia de prazer, e o empreendimento pode desafiar a capacidade do orador de atingir aquela percepção de semelhança entre dissimilares tão admirada por Aristóteles. Ademais, o trabalho precisará ser feito sem o tédio envolvido em examinar o terreno de perto, demonstrando ou refutando pontos de um modo com o qual nós todos nos familiarizamos muito ultimamente.”
Sobre o autor – Sir Frank Kermode (1919-2010) foi professor emérito de Inglês na Universidade de Cambridge. Escreveu acerca de uma vasta gama de tópicos, do Novo Testamento a Shakespeare, dos românticos a Wallace Stevens, e sobre a teoria da literatura. Dentre seus muitos livros, três especialmente relevantes para a questão da formação do cânone são Formas de atenção, The Classic e History and Value. Pela Editora Unesp, publicou Guia literário da Bíblia (1997), organizado por ele e Robert Alter.
Título: Prazer e mudança: a estética do cânone
Autor: Frank Kermode
Organização e introdução: Robert Alter
Tradução: Luiz Antônio Oliveira de Araújo
Número de páginas: 146
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 49
ISBN: 978-65-5711-016-4