Lançado pela Editora Unesp em 2015, Em costas negras: uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro (séculos XVIII e XIX), escrito por Manolo Florentino, traz uma grande contribuição para a historiografia brasileira. Desde o final da década de 1980, por ocasião do primeiro centenário da Lei Áurea, houve um considerável aumento do número de pesquisas sobre a questão dos escravos no Brasil. Despontaram importantes estudos que contribuíram para que se constituísse uma sólida linha de pesquisa demográfica, socioeconômica e cultural,e que deram ênfase à história de uma África até então pouco conhecida.
Além de se terem firmado novos marcos para a análise do sistema escravista, o tema do tráfico de escravos também recebeu revisão significativa. Entre esses estudos, a obra de Manolo Florentino, é uma das análises mais instigantes e expressivas da historiografia nacional.
Com amplo domínio da bibliografia sobre o tema e uma extensa pesquisa de fontes documentais – entre elas, listagens dos navios negreiros, inventários post-mortem e registros eclesiásticos –, Florentino articulou pesquisa quantitativa e análise qualitativa para desvendar o tráfico negreiro para o Rio de Janeiro dos séculos XVIII e XIX enquanto operação de contínua oferta de mão de obra a baixo custo, mecanismo altamente lucrativo que transformou os mercadores de escravos na mais importante fração da elite brasileira, posição que lhes facultava influenciar decisivamente os destinos do Estado.
Ao formular uma nova interpretação sobre o tráfico atlântico de negros escravizados e aprofundar a análise social e econômica dessa atividade, Manolo Florentino contribuiu de forma importante para a revisão e o aprofundamento históricos de um tema complexo e abriu possibilidades interpretativas que se refletem na produção atual de pesquisadores que procuram desvendar a singularidade da África e dos africanos no Brasil.
Manolo Florentino é professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Autor de diversas obras, o seu Em costas negras foi um dos ganhadores do Prêmio Arquivo Nacional (1993). É membro do Comitê Diretor do The Trans-Atlantic Slave Trade Database Voyages