Produzidos em vários momentos de sua carreira, os nove ensaios desta coletânea constituem uma amostra bastante representativa da obra de um dos mais proeminentes especialistas na área
Interessado em compreender a dimensão atlântica de um império global da época moderna, como o português, o historiador inglês A.J.R. Russell-Wood edifica em seu Histórias do Atlântico português, que chega à segunda edição pela Editora Unesp, aquilo que mais caracterizou sua jornada pela historiografia: ecletismo e, diversas vezes, inovação de suas temáticas de pesquisa, metodologia e perspectiva analítica global do império lusitano. Os nove textos que compõem a coletânea, escritos em entre 1977 e 2009, foram selecionados pelo próprio autor em 2010, meses antes de sua morte. Alguns são clássicos com potencial de renovação da pesquisa acadêmica sobre certos temas da História atualmente muito investigados, como o das instituições de governo local, dos funcionários régios e das formas de mobilidade social de negros africanos e mestiços na sociedade hierárquica luso-brasílica.
“Um império transcontinental, originado dos movimentos de fluxo e refluxo humanos, de ideias e espécies nos mundos do Atlântico e além (português) é a principal ideia-chave que dá unidade aos textos desta coletânea’”, anotam as organizadoras da obra, Ângela Domingues e Denise Moura. “O leitor encontrará muito mais do que Portugal e Brasil, mas também África e Ásia, o que faz da história do Atlântico, discordando de Bernard Bailyn, uma síntese da história global.”
A obra também inclui textos inéditos em língua portuguesa, que prometem contribuir para o estudo e a investigação sobre a ciência e as técnicas náuticas, bem como sistemas portuários, além da reflexão sobre o processo de constituição de uma civilização do Atlântico português, cujas raízes também se estendiam até a Ásia.
“Em 1415, o infante d. Henrique, ‘o Navegador’, participou da captura da cidade muçulmana de Ceuta no Marrocos, marcando o início de uma presença portuguesa formal fora da Europa continental. Em 1822, o Brasil declarou sua independência de Portugal”, pontua Russell-Wood. “Nos séculos decorridos nesse ínterim, navegadores portugueses rumaram para o norte até o Círculo Polar Ártico e para oeste até a Groelândia e o Mar do Labrador, além de desbravar as passagens sul e sudoeste do Oceano Atlântico ao Índico e o Pacífico, respectivamente”, destaca. “O português tornou-se a língua europeia mais falada na região atlântica. Ao expô-los ao cristianismo e à escravidão, os portugueses transformaram a vida de milhões de ameríndios e africanos.”
Diante desta disposição do autor em utilizar linguagem acessível, o livro torna-se interessante, inclusive, para não especialistas, instigando o leitor curioso acerca da formação do mundo de língua portuguesa diante dos movimentos humanos que se deram entre os continentes ao longo dos séculos, bem como das histórias deixadas por aquelas trajetórias.
Sobre o autor – A.J.R. Russell-Wood (1940-2010) nasceu no País de Gales e teve formação profissional entre Inglaterra, França e Espanha. A amizade com Charles Boxer o levou para a História de Portugal e de seu império ultramarino. Doutorou-se em História Moderna pela Universidade de Oxford e teve suas pesquisas em Portugal e no Brasil supervisionadas por Hugh Trevor-Roper. Foi professor do Departamento de História da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, nos Estados Unidos. Escreveu vários livros e artigos que se tornaram clássicos da historiografia luso-brasileira, destacando-se Fidalgos e Filantropos: a Santa Casa de Misericórdia da Bahia (1550–1755) e Um mundo em movimento: os portugueses na África, Ásia e América (1415–1808).
Título: Histórias do Atlântico português ‒ 2ª edição
Autor: A.J.R. Russell-Wood
Organização: Ângela Domingues e Denise Aparecida Soares de Moura
Número de páginas: 408
Formato: 14 x 21 cm
Preço: R$ 72,00
ISBN: 978-65-5711-019-5