Jean-Pierre Vernant decifra como os gregos representavam seus deuses

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quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Partindo das figuras mascaradas de Ártemis, da Górgona e de Dioniso, historiador investiga o papel desempenhado por essas divindades sob a perspectiva da antropologia histórica 

Por que a máscara da Górgona petrifica o observador? Como os antigos gregos representaram seus deuses? Quais relações simbólicas lhes permitiam associar uma divindade ao ídolo que a evocava? Enquanto buscava responder a essas questões, Jean-Pierre Vernant se deparou com o seu entrelaçamento, na cultura grega, com o culto e o uso das máscaras, centrando-se especialmente nas representações de Ártemis, da Górgona e de Dioniso. A partir desta ideia, utilizando-se da antropologia histórica, o historiador passou a se aprofundar em como os gregos procuravam representar o divino. Nascia, assim, A morte nos olhos: a figura do Outro na Grécia Antiga, lançado pela Editora Unesp.

“Como os gregos representaram seus deuses e quais lugares ou relações simbólicas associam determinado tipo de ídolo à divindade que é missão dele evocar ou ‘presentificar’”, anota Vernant. “Nesse contexto, tomei conhecimento da questão dos deuses gregos mascarados, isto é, dos deuses representados apenas por uma máscara, ou cujo culto inclui máscaras, tanto votivas como usadas pelos celebrantes. Refiro-me essencialmente a três Potências do além: Gorgó (a górgona Medusa), Dioniso e Ártemis. Que características comuns essas Potências apresentam, por mais distintas que sejam, que as aproximam dessa zona do sobrenatural expressa pela máscara? Minha hipótese é que, obedecendo a modalidades próprias, todas têm relação com o que chamarei, na falta de opção melhor, de alteridade. Elas tratam da experiência dos gregos com o Outro, sob as formas que estes deram a ele.”

Ao longo dos sete capítulos, fica claro o papel fundamental que as máscaras têm no conceito. “Alteridade é uma noção imprecisa e extremamente ampla, mas que não acredito anacrônica, na medida em que os gregos a conheciam e utilizavam. Desse ponto de vista, poderíamos dizer que a máscara monstruosa da Górgona traduz a extrema alteridade, o horror terrífico do que é absolutamente outro, o indizível, o impensável, o puro caos: para o homem, o confronto com a morte, a morte que o olhar da Górgona impõe àqueles que o fixam, transformando todo ser que respira, move-se e vê a luz do Sol em pedra imóvel, fria, cega, entenebrecida”, pontua.

Já no caso de Dioniso, tudo muda de figura. “Trata-se, no seio mesmo da vida, nesta mesma terra, da intrusão súbita do que nos desorienta da existência cotidiana, do curso normal das coisas, de nós mesmos: o disfarce, a dissimulação, a embriaguez, a brincadeira, o teatro, o transe e, enfim, o delírio extático. Dioniso nos ensina ou obriga a nos tornarmos diversos do que somos normalmente, a experimentar nesta vida, neste mundo, a fuga para uma estranheza desconcertante”, explica. “E Ártemis? Veremos Ártemis não nas minúcias de seus santuários e de suas formas, mas no essencial: o que dá especificidade a essa Potência divina, bem como unidade e coerência a suas múltiplas funções.”

Num texto direto, fluido e envolvente revelam-se as dimensões religiosas, culturais, políticas e sociais que envolvem e permeiam a simbologia do outro, indispensáveis para compreender o papel particular que essas divindades desempenhavam na vida dos antigos gregos. 

Sobre o autor – O historiador e antropólogo Jean-Pierre Vernant (1914-2007) foi um dos mais notáveis especialistas contemporâneos na temática da Grécia antiga. Foi professor do Collège de France, sendo laureado com a Medalha de Ouro CNRS de 1984. No início da década de 1970, chegou a lecionar no departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo. 

Título: A morte nos olhos: a figura do Outro na Grécia Antiga
Autor: Jean-Pierre Vernant
Tradução: Mariana Echalar
Número de páginas: 130
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 48,00
ISBN: 978-65-5711-053-9 

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