Estudo analisa como imigração, políticas públicas e ambiente construído moldaram o bem-estar dos habitantes desde o século XIX até os dias atuais
Costuma-se dizer que o mosquito é democrático, pois pica ricos e pobres sem distinção. Por que, então, as agressões à saúde – da violência às doenças respiratórias, da malária à dengue – se distribuem de forma tão desigual entre diferentes grupos sociais e nacionais? É a partir dessa questão que Jeffrey Lesser conduz Viver e morrer em São Paulo, publicado pela Editora Unesp, em uma investigação profunda e interdisciplinar sobre a história da cidade, tomando como epicentro o bairro do Bom Retiro.
“Um dia, encontrei uma arma”, começa, instigante, o autor. “Ela estava escondida em um armário no apartamento dos meus falecidos sogros em São Paulo, cidade que tem sido um dos meus lares há quase quatro décadas. Por que os pais da minha esposa, pacíficos e cumpridores da lei, ambos refugiados da Europa da era nazista, esconderiam uma arma? Encontrar o objeto levou a uma combinação de incidentes e sorte que moldou as perguntas que este livro faz sobre movimento, ambiente construído e viver e morrer, seja por doença ou violência. O revólver, e minhas tentativas de me desfazer dele, levaram-me a uma jornada por geografias, temporalidades e povos que incluíram imigrantes e autoridades de saúde pública, bairros e edifícios, doenças e curas, vida e morte.”
Com uma análise que conecta passado e presente, o autor examina como as visões de saúde do Estado – expressas em instituições como a antiga Polícia Médica ou em ações de vigilância sanitária – muitas vezes entraram em conflito com as experiências e resistências dos imigrantes. Suas páginas revelam os “resíduos” materiais, legislativos e sociais que o tempo não apagou, mostrando como legados históricos continuam a influenciar os resultados de saúde na metrópole contemporânea.
“Ao enfatizar como as pessoas se envolvem com práticas, espaços e imagi- nários de saúde cotidianos, destaco resíduos materiais, políticos e sociais que persistem mesmo durante períodos de transformação. Podemos pensar em resíduos como ‘estruturas de repetição’ que marcam a permanência com base em atividades passadas, ‘de tudo ficou um pouco’, como escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade. Este livro afirma, portanto, que a intratabilidade do passado no presente significa que as políticas de saúde pública em transformação, os avanços biomédicos e as novas ideias sobre multicultura- lismo podem não ser tão transformadores quanto parecem à primeira vista.”
Com um texto afiado e apaixonante, Jeffrey Lesser desvela as camadas que interligam cultura e doença, estigmatização étnica e infraestrutura e oferece mais do que o histórico de um bairro. Viver e morrer em São Paulo mostra como a desigualdade é construída no tecido urbano e como as comunidades negociam sua sobrevivência e sua própria definição de uma vida saudável.
Sobre o autor – Jeffrey Lesser ocupa a Cátedra de Estudos Brasileiros na Universidade Emory, em Atlanta, eua, e é professor convidado do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. É o autor de muitos livros publicados no Brasil, incluindo três premiados internacionalmente: Uma diáspora descontente: os nipo-brasileiros e os significados da militância étnica, 1960-1980 (Paz e Terra, 2008), Negociando a identidade nacional: imigrantes, minorias e a luta pela etnicidade no Brasil (Editora Unesp, 2001) e O Brasil e a questão judaica: imigração, diplomacia e preconceito (Imago, 1995). Pela Editora Unesp, publicou também A invenção da brasilidade: identidade nacional, etnicidade e políticas de imigração (2015).
Título: Viver e morrer em São Paulo: imigração, saúde e infraestrutura urbana (século XIX até o presente)
Autor: Jeffrey Lesser
Tradução: Giuliana Gramani
Número de páginas: 390
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ 90
ISBN: 978-65-5711-278-6
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