Joan Robinson examina intersecções da economia com a ciência e a ideologia

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segunda-feira, 1 de agosto de 2022

De estilo cristalino, obra clássica da economista britânica avalia o tratamento dado à concepção de valor pelos primeiros teóricos econômicos, numa vívida crítica ao capitalismo  

“A economia sempre foi, em parte, um veículo da ideologia dominante de cada período, assim como, em parte, um método de investigação científica. Assim, a economia avança coxeando com um pé em hipóteses não testadas e, com o outro, em slogans não testáveis. Aqui nossa tarefa é solucionar do melhor modo possível essa mistura de ideologia e ciência.” Com essas palavras provocativas, a economista britânica Joan Robinson apresenta Filosofia econômica, lançamento da Editora Unesp. Responsável por algumas das contribuições mais austeras para a teoria econômica, a autora desnuda nesta obra iconoclasta o conteúdo dogmático da ortodoxia econômica e propõe que a economia avance substancialmente em direção à ciência.            

“Um dos motivos pelos quais a vida moderna é tão desconfortável reside na circunstância de nos termos tornado inseguros com coisas que costumávamos considerar como certas”, provoca Robinson. “Antigamente, as pessoas acreditavam no que acreditavam por acharem que se tratava da verdade ou por suporem que era o que todas as criaturas sensatas pensavam. Porém, desde que Freud nos revelou a nossa propensão à racionalização e Marx mostrou que as nossas ideias procedem de ideologias, começamos a perguntar: Por que eu acredito no que acredito? O fato de fazermos tais perguntas implica que pensamos que há uma verdade a ser encontrada, mas, mesmo que as pudéssemos responder em uma camada, outro extrato ficaria lá atrás: Por que eu acredito no que acredito acerca do que me faz acreditar em tal coisa? Ocorre que nós ficamos em um nevoeiro impenetrável.”            

E é nesse nevoeiro que a autora adentra. Com seu estilo fulgurante e límpido, Robinson analisa – e critica – o tratamento dado à concepção de valor pelos primeiros teóricos da economia, nomeadamente seus conterrâneos Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823) e pelos economistas neoclássicos ingleses Alfred Marshall (1842-1924), Stanley Jevons (1835-1882) e pelo francês Leon Walras (1834-1910). Ela busca demonstrar como aquilo que esses economistas consideravam como os geradores de valor – respectivamente o tempo de trabalho, a utilidade marginal e as preferências – nada tinha de científico, mas de “metafísico”, e como é frequente encontrar na ideologia – e não na ciência – motivo para rejeitar as teorias econômicas. Além disso, também analisa as implicações da revolução keynesiana na economia e avalia a aplicabilidade das teorias de John Maynard Keynes (1883-1946) a economias em desenvolvimento.

Longe de estar ultrapassada, Joan Robinson conclui este livro com uma lição que ressoa na economia turbulenta e desigual de hoje: a principal tarefa do economista é combater a ideia de que os únicos valores que importam são aqueles que podem ser medidos em termos monetários. “Uma ideologia é muito mais parecida com um elefante do que com um ponto”, escreve. “É uma coisa que existe, que podemos descrever e sobre a qual discutir e debater. Para resolver debates, não convém apelar para uma definição lógica; nós precisamos não de definições, e sim de critérios.”

Sobre a autora – Joan Robinson (1903-1983) nasceu em Camberley, Inglaterra. Ensinou economia em Cambridge de 1931 a 1971, tornando-se professora titular em 1965. Em 1979, foi a primeira mulher a participar como membro honorária do King’s College. Além de ensinar a teoria keynesiana, escreveu várias obras destinadas a apresentar a teoria econômica para o leitor não especialista. No início da década de 1940, começou a introduzir aspectos da teoria marxista em seus trabalhos.

Título: Filosofia econômica
Autora: Joan Robinson
Tradução: Luiz Antonio Oliveira de Araújo
Número de páginas: 208
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 74
ISBN: 978-65-5711-131-4

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