Livros: por que tão caros?

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sexta-feira, 16 de setembro de 2022

(Foto: Ahmad Ardity / Pixabay)


O presidente da Academia Paulista de Letras, José Renato Nalini, publicou artigo em que conclama os candidatos à Presidência do Brasil a assumirem um compromisso com o livro e a leitura no País. Confira a íntegra a seguir, aqui para ler no site da APL e aqui para ler no site do jornal O Estado de S.Paulo.

Livros: por que tão caros?

José Renato Nalini*

Mary Del Priore, historiadora sensível e verdadeira evangelizadora da leitura, fica chocada quando vê, em suas andanças, jovens devolvendo os livros às prateleiras, ao consultarem o preço. Sugeriu que a Academia Paulista de Letras, que é sua Casa, fizesse um apelo aos presidenciáveis, para que incluíssem tal preocupação em suas metas.            

Fez mais: pediu a Jézio Hernani Bomfim Gutierre, operoso presidente da Fundação Editora da Unesp, que sugerisse um texto para servir de base ao apelo. Com algumas inserções, ele ficou assim: “Uma nação se edifica a partir de seres humanos letrados. O livro, no Brasil de hoje, é objeto acessível a bem poucos. Isso dificulta o acesso ao conhecimento e, portanto, à ciência e à verdade.

O domínio da leitura é pré-requisito indispensável para se adquirir consciência do lugar de cada qual, como cidadão presente e partícipe na sociedade. Imprescindível, em casa e na escola, a leitura amplia o horizonte de possibilidades, aprimora a capacidade do melhor uso da linguagem oral e escrita. Ela aprimora a capacidade de pensar, criticar e interagir. Garante o protagonismo sem o qual não há cidadania, nem vida democrática. Ela é fundamental, pois, competência básica, primeiro passo e passagem obrigatória para outros aprendizados. Leitura e a escrita integram a natureza humana. Com base nesses postulados é que a Academia Paulista de Letras dissemina escrita e leitura, estimula as potencialidades e busca valorizar todos os que fazem da palavra o seu ofício primordial.

Numa era em que as tecnologias promovem profunda mutação estrutural no sistema educacional e cultural, sente-se legitimada a recomendar aos futuros condutores da Administração Pública brasileira um compromisso sério e consistente em favor da leitura. Ler é saber decifrar códigos e sentidos; identificar palavras e distinguir suas diferenças; afirmar e enriquecer a linguagem e o pensamento; abrir-se ao mundo; comparar experiências; emocionar-se, sonhar e imaginar.

É urgente a adoção de uma política estatal que ampare, multiplique e fortaleça a presença do livro no Brasil e, diante disso, nossas sugestões:

  1. Adoção de uma política estatal séria, robusta e firme, em favor do livro barato e do efetivo estímulo à leitura por todos os brasileiros, independentemente da escolaridade ou faixa etária.
  2. Integração entre as agências científicas e acadêmicas dos Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia - é necessário que organismos tais como Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] e CNPq {Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] tenham interlocução constante com as entidades do livro (CBL, Abeu etc.) para preservar o relevo da leitura e da publicação específica de livros. Docentes e pesquisadores dedicados à escrita de livros não têm hoje o devido reconhecimento por parte de agências de fomento, inclusive as mais representativas.
  3. Chamamento de toda a cidadania – universidade, academias, instituições, igreja, empresariado, mídias, redes sociais e todo o Terceiro Setor – para congregar esforços que tornem escrita e leitura uma prazenteira ocupação de todos os brasileiros.
  4. Aperfeiçoamento das políticas de compra livreira governamental, de modo a fomentar a diversidade na aquisição e escolha das editoras contempladas.
  5. Definição de políticas científicas de acesso aberto que propiciem recursos do Estado para a publicação acessível, em moldes semelhantes aos adotados pela OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico], medida de estímulo concomitante à pesquisa científica e ao mundo editorial.
  6. Estímulo à criação de novas bibliotecas, incremento à atualização daquelas situadas em escolas e em todos os municípios e ampliação do acervo das bibliotecas de instituições federais em harmonia com outras iniciativas de estímulo ao livro e à leitura. No empenho de contribuir com ações diligentes de valorização do livro e da leitura, a Academia Paulista de Letras acredita que a devida atenção para esse tema significará um plus qualitativo à gestão que terá início em 2023. Assina: Academia Paulista de Letras”.

Neste ano emblemático de 2022, a instituição que congrega quarenta intelectuais com o objetivo de defender o vernáculo, a escrita e a literatura e que há cento e treze anos atua em São Paulo, teve de adotar postura nem sempre compreendida e, de certa forma, atípica.

O texto “Brasil, País Vulnerável”, inspiração de Rubens Barbosa, era o alerta que a APL fazia, diante da situação de extrema gravidade enfrentada pela Nação. Quadro de incertezas e riscos, impõe-se a adoção de uma agenda renovada, urgente tarefa para os bons brasileiros. Em seguida, perante ameaças à democracia, às instituições e ao sistema eleitoral, também motivou um manifesto que conclamava as pessoas lúcidas a reagirem: “O preço do imobilismo será maior do que o custo das mudanças necessárias para restabelecer as condições de governabilidade do país”. Agora, a clamar no deserto, sonha com um Presidente que goste de ler e que atenda à justa aspiração de infância e juventude que pretendem ser letradas. A Academia Paulista de Letras não perde a esperança de um Brasil melhor.  

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras (2021-2022).

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