Nova impressão de 'História do ateísmo', de Georges Minois

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quinta-feira, 20 de julho de 2017

O ateísmo é tão antigo quanto as religiões, que durante muito tempo o moldaram e perseguiram. No entanto, se existem estudos profundos e abundantes acerca da história das religiões, impera um vazio historiográfico sobre a descrença. História do ateísmo, obra de Georges Minois que acaba de ganhar nova tiragem, é uma contribuição seminal para o preenchimento dessa lacuna, para ele fruto, principalmente, da conotação negativa que se atribuiu ao ateísmo ao longo dos séculos. 

Tal conotação estampa-se já nos termos usados para designá-lo, constituídos de prefixos privativos ou negativos: a-teísmo, des-crença, a-gnosticismo, in-diferença.  E ainda na intolerância da cultura ocidental em relação ao descrente: “A palavra ateu ainda carrega um vago odor de fogueira”, escreve Minois. 

Monumental, a pesquisa abrange desde os povos primitivos até a cultura ocidental do século 21, mostrando que a história do ateísmo não é linear – não parte de um cenário exclusivamente religioso para chegar a um trunfo absoluto da descrença. Ao contrário, demonstra Minois, ateísmo e fé convivem lado a lado na trajetória humana, contrapondo-se, como duas faces da mesma moeda. Suas feições, porém alternam-se através do percurso.

Segundo Minois, quando as sociedades voltam-se à razão e a tomam como guia capaz de lhes revelar aos poucos o sentido da vida, emergem correntes como uma “grande religião” e o ateísmo teórico. Ambos expressam uma reflexão intelectual sobre o universo: “Nesses períodos, a razão serve para reforçar a fé em alguns e destruí-la em outros, porém ela é referência para todos”.

O historiador identifica quatro fracassos sucessivos da racionalidade na história da cultura humana, aos quais se seguiram crises de irracionalidade: racionalidade pagã, racionalidade escolástica, racionalidade cartesiana e racionalidade científica. O Ocidente estaria passando, desde o fim do século 20, pela quarta crise de irracionalidade, o irracionalismo do fim do milênio, após ter atravessado o irracionalismo do fim do mundo antigo, o irracionalismo do fim da Idade Média e da Renascença e o irracionalismo romântico.

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp