Séculos XVI a XVII. No mundo, a Igreja e a opinião masculina regem a moral, enquanto o Brasil vive sua fase de colônia. Mary Del Priore escolheu este momento histórico para realizar seu estudo sobre o universo feminino, uma época em que a realização feminina estava exclusivamente na maternidade. Ao sul do corpo - 2ª edição, título que estava esgotado e acaba de ganhar nova impressão, resgata personagens e situações anônimas para contar a história da mulher.
Recolhendo e organizando informações esparsas e dispersas, a autora descortina um mundo onde os poderes informais relativos à cultura e à religião afloram simultaneamente, revelando, no cotidiano impreciso da mulher, a sua capacidade de solidariedade e resistência. A obra revela práticas culturais e representações simbólicas em torno da maternidade, do parto, do corpo feminino e do cuidado com os filhos.
Para a autora, a maternidade extrapola a mera biologia, possuindo também um intenso conteúdo sociológico, presente na mentalidade humana há séculos. Por ser parte de um conjunto de saberes femininos, dar à luz diferencia a mulher sexualmente do homem. Mary Del Priore acredita que esta noção de “emancipação biológica” foi o início da emancipação ideológica feminina.