'O homem diante da morte' ganha reimpressão

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domingo, 18 de julho de 2021

Resultado de anos de pesquisa, o livro se transfigura em um profundo mergulho no inconsciente coletivo em torno do tema da morte para o homem ocidental através dos séculos

No abrangente estudo O homem diante da morte, de Philippe Ariès, o pensador investiga o comportamento humano diante da morte ao longo do último milênio nas sociedades ocidentais. A partir de uma perspectiva histórica, sociológica e até mesmo psicológica, ele analisa textos literários, inscrições lapidares, obras de arte, diários pessoais para mostrar que as atitudes em relação à morte, própria e dos outros, foram se transformando, de modo quase imperceptível, no decorrer do tempo, até se tornarem irreconhecíveis em relação aos séculos anteriores. A comparação entre a morte familiar e “domesticada” da sociedade cristã medieval e a morte repelida, percebida como negação absoluta e tornada oculta da Era Contemporânea, dão a medida justa dessa mutação. Este clássico ganhou mais uma reimpressão.

Ariès levanta uma hipótese para a pesquisa, monumental, e a enriquece gradualmente propondo por fim a existência de uma correlação entre a atitude do homem diante da morte e a consciência da individualidade, agregando ainda outras três variáveis ​​psicológicas ao estudo: a defesa da sociedade contra a natureza selvagem e a crença na sobrevivência e na existência do mal.

A obra mostra que a trajetória humana em torno da morte não tem continuidade temporal, pois velhas atitudes sobrevivem a novos modelos. Contudo, na Era Medieval o modelo predominante é o da morte como membro das comunidades, que conduz os homens a uma espécie de sono. Em seguida, vem à tona o indivíduo e impõe-se a noção de sobrevivência da alma, a sede da individualidade.

Num segundo momento, que vai do século 16 ao século 18, a morte até então domesticada e contida, é liberada, retorna ao estado de selvageria e passa a provocar fascínio e medo. É somente no século 18, segundo Airiès, que a morte adquire um sentido dramático e passa a ser encarada como transgressão, por “roubar” o homem de seu cotidiano e sua família – trata-se agora de olhar para a morte do outro.

Nos anos seguintes a morte se transformou, aos poucos, em tabu, sua proximidade passou a ser ocultada do moribundo. Mas foi a partir dos anos 1930 que a medicina mudou a representação social da morte: morre-se agora em hospitais, não mais em casa, e a vida pode ser estendida, ainda que de forma vegetativa, por meses e anos.

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