'O que Freud dizia sobre as mulheres' ganha nova tiragem

Notícia
Notícias
terça-feira, 19 de março de 2019

Ao final do século XIX, alguns sintomas desafiavam o saber racional da medicina. Incapazes de identificar fisicamente o que ocorria com algumas mulheres, estas eram classificadas como histéricas. O quadro só se tornou mais claro quando Sigmund Freud desbravou um novo campo da ciência médica, realizando descobertas preciosas e propondo uma nova forma de tratamento, a psicoterapia. Para entender essa revolução epistemológica, o professor José Artur Molina propõe o seguinte caminho: explorar o entorno dessa descoberta, a política, a sociedade, a literatura e a pintura da Viena do pai da psicanálise. 

O resultado dessa pesquisa é encontrado no livro O que Freud dizia sobre as mulheres, lançado em 2016 e que acaba de ganhar nova tiragem. A intenção é investigar como Freud, subvertendo os pressupostos científicos de sua época, chegou aos seus modelos e a conceitos inovadores, como o do inconsciente. E, ainda mais, entender como o mundo moderno é construído desde a desestruturação da antiga hierarquia entre os sexos, edificado justamente no momento em que o mundo dos homens desaba na antiga Viena do século XIX. Nesse percurso, o feminino também impõe dificuldades a Freud e à sua lógica fálica, que ele mesmo questionaria em seus últimos trabalhos. Dessa forma, como afirma Molina, “o projeto psicanalítico origina-se, portanto, de uma dor, de algo que não quer calar justamente porque não podia dizer: a dor das mulheres”. A partir de suas pesquisas e da escuta de inúmeras pacientes, Freud estabeleceu uma teoria singular, com conceitos como inconsciente, pulsão e um método que incluía a escuta, a associação livre e a transferência. 

Esse coprotagonismo entre o papel das mulheres e a teoria freudiana é abordado buscando-se a inspiração da arte e da poesia. Seguindo uma sugestão do próprio Freud, Molina incursiona nos campos artísticos e literários para saber que tipo de mulher estava sendo construído àquela época. Visita assim “a literatura de Arthur Schnitzler (que faz da mulher protagonista de sua obra) e a pintura de Gustav Klimt (que dedica toda sua arte à mulher): na arte, elas seriam desnudadas, sem pecado e sem pudor”. Para, ao final, definir a tarefa dos psicanalistas – depois de afirmar que homens e mulheres podem escrever seu destino para além das formulações que cerceiam a singularidade – como a “enunciação de singularidades e fazer tremular a bandeira da alteridade como novas possibilidades de estar no mundo”. 

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp