Paulo Franchetti reflete sobre a prática do ensino de literatura
A partir da longa trajetória em salas de aula do ensino médio e da universidade, o autor enseja importantes reflexões sobre sua atuação e sobre a função e a formação do professor de literatura
“Não existe nada pior do que brandir como justificativa para o estudo da literatura a ideia de que se trata ou de uma disciplina sobre a qual haverá́ provas ou de matéria do vestibular”, defende o professor Paulo Franchetti. E ele fala com conhecimento de causa: um percurso de cinco anos pelas salas de aula do ensino médio e mais de trinta na universidade, uma rica vivência que reúne em Sobre o ensino de literatura, lançamento da Editora Unesp.
“Quando pensei em reunir os poucos textos nos quais tratava diretamente do ensino da literatura, percebi a disparidade que até́ então tinha ficado oculta: passei a vida ensinando e me preocupando com o que ensinar e como ensinar. E escrevi pouco sobre isso”, pontua Franchetti. “Mas a verdade é que, se não o fiz por escrito, pensar sobre por que motivo ensinamos literatura no ensino médio e na universidade foi sempre uma preocupação central ao longo da minha carreira acadêmica. E mais que uma preocupação teórica: foi um motor da busca da forma mais produtiva de trabalhar com a literatura em sala de aula e originou um esforço constante de reflexão e um contínuo exercício de aprendizagem por erros e acertos.”
Franchetti palmilha o que significa o estudo da literatura diante dos diferentes contextos que se apresentaram em sua vida de docente: desde quando começou, lecionando a disciplina numa escola técnica da área de Química, e depois no curso de graduação em Letras. “Na universidade, mantive o que pude da forma de trabalho. Claro que as aulas no curso de Letras eram para outro público, em tese mais especializado. Mas o que pude confirmar é que a melhor forma de ensinar literatura continuava a ser a leitura comentada, nesse caso com mais profundidade, mas sempre com o cuidado de fazer o texto falar, em vez de falar dele e por ele”, anota.
Sua experiência foi marcada por um recurso que usara de forma bem-sucedida ainda no colégio de Química: a leitura em voz alta, mesmo quando o objeto era um texto crítico, na Unicamp. “Agora, porém, uma questão maior se apresentava: eu estava ensinando aquilo para quem? Que preparação estava tentando dar àquelas pessoas que seriam professores de ensino médio ou estudantes de pós-graduação? E como fazer algo que fosse interessante e útil para qualquer desses destinos após a formatura?”, anota.
Essas questões mais amplas são tratadas de modo central em dois textos: um sobre para que estudar literatura e outro sobre o que foram o estudo e o ensino da literatura durante o período em que Franchetti se formava como intelectual. O leitor encontrará ainda uma reflexão aprofundada sobre o que acontece no estrato superior da formação literária – o universitário –, no texto em que o autor discute as vigentes formas de avaliação do mérito nas humanidades e suas consequências para os estudos literários – mas não só́ para essa área. Por fim, um ponto de vista mais testemunhal, que permite complementar os textos iniciais, pode ser encontrado na entrevista que encerra este volume. “Tudo isso que aqui registro tem apenas um objetivo: manifestar minha crença profunda de que a força da literatura está nela mesma”, resume o autor.
Sobre o autor - Paulo Franchetti formou-se em Letras (Português/Francês) na Universidade Estadual Paulista (Unesp), câmpus de Araraquara. É mestre em Teoria Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e livre-docente pela Unicamp. Foi professor titular da Unicamp e dirigiu por onze anos a editora da mesma universidade. Entre outros livros, publicou Alguns aspectos da teoria da poesia concreta, Estudos de literatura brasileira e portuguesa e Crise em crise – notas sobre poesia e crítica no Brasil contemporâneo.
Título: Sobre o ensino de literatura
Autor: Paulo Franchetti
Número de páginas: 112
Formato: 14 x 21 cm
Preço: R$ 54
ISBN: 978-65-5711-104-8