Pesquisador investiga a transformação da noção de corpo após sua separação da alma
Quando Angélique, filha de Diderot, foi questionada pelo pai sobre a alma, respondeu: “A alma é feita quando se faz a carne.” Esta resposta ingenuamente materialista serve de ponto de partida para Metáforas do corpo no Século das Luzes, obra do professor livre-docente no Departamento de Filosofia da USP, Pedro Paulo Pimenta, lançamento da Editora Unesp. Nos ensaios reunidos no livro, Pimenta explora a evolução da ideia de corpo no século XVIII, após sua dissociação da alma, com a qual havia estado ligada desde as Meditações de Descartes, publicadas em 1649.
“A ingenuidade da jovem representa para Diderot a confissão de um materialismo espontâneo, crença que todos adotaríamos se não fossem os preconceitos impostos pelas autoridades políticas e religiosas. A filosofia também contribuiu para a disseminação desses erros. A redução da alma ao corpo por Angélique marca o fim do dualismo cartesiano e exige a reconsideração da ideia de corpo. Seria uma simples inversão dar à substância extensa a prioridade antes atribuída à substância espiritual”, escreve Pimenta. “O gênio dessa garota consiste em tornar uma coisa indissociável da outra. A rigor, não há diferença entre idealista e materialista, a menos que o corpo seja visto como um signo de necessidade, e não mais como a contraparte da alma. O corpo deixa de ser uma coisa para se tornar um problema: uma figuração do discurso filosófico, literário ou naturalista.”
Nas orelhas do livro, o pesquisador Vinicius Figueiredo elogia a originalidade da obra: “Circula com rara desenvoltura pela literatura científico-filosófica do século XVIII, sem deixar de lado a retórica e a eloquência, estabelecendo pontes que fortalecem a ideia foucaultiana de episteme. Diferente de Foucault, a obra inclui a frequentação dos britânicos e bons escritores franceses do século XVIII, tornando a leitura instrutiva e agradável. Sugere-se assim, de maneira convincente, o caráter ‘reflexionante’ das Luzes francesas. Em vez de doutrina – positividade, metafísica, ontologia – temos crítica – conjecturas, analogias, metáforas. Isso é muito bem costurado e possui grande interesse, não só historiográfico, mas também filosófico.”
Para Pimenta, a obra pode ser vista como uma genealogia de um conflito que persiste até hoje: o desejo por bens materiais, de natureza econômica, e o desejo pelos corpos, de natureza sexual. Embora seja exagerado afirmar que essas questões de uma metafísica não tão clássica estejam diretamente ligadas ao tempo e lugar em que o livro foi escrito, a leitura pode suscitar reflexões profundas sobre questões atuais.
Sobre o autor – Pedro Paulo Pimenta é professor livre-docente no Departamento de Filosofia da USP. Traduziu escritos de Hume, Gibbon, Diderot e d’Alembert, entre outros. É autor de numerosos artigos e de alguns livros, dentre os quais se destacam A imaginação crítica: Hume no Século das Luzes (Azougue, 2013) e A trama da natureza: organismo e finalidade na época da Ilustração (Editora Unesp, 2018).
Título: Metáforas do corpo no Século das Luzes
Autor: Pedro Paulo Pimenta
Número de páginas: 232
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 64
ISBN: 978-65-5711-155-0
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