Ao longo de quatro capítulos, são desfiados centenas de pesquisadores que gravitam nas áreas da Linguística e da Biologia
Ao nascermos, nossos gritos apontam para os primeiros passos em termos de linguagem humana. Com o passar dos anos, o bebê começa a apreender os sinais sonoros que compõem a fala e a aprimorar seu modo de se expressar, chegando ao pleno domínio da faculdade da linguagem. Mas o que temos de tão especial para termos avançado tanto nessa matéria? É o que se perguntam os renomados linguistas Robert Berwick e Noam Chomsky em Por que apenas nós?, que ganha nova reimpressão.
Sob o prisma “biolinguístico”, os autores procuram entender essa habilidade, exclusiva de nossa espécie, para adquirir qualquer linguagem humana ou o que chamam de a “faculdade da linguagem”. “Há muito tempo [se] levanta questões biológicas importantes, como as seguintes: Qual é a natureza da linguagem? Como ela funciona? Como evoluiu? Esta coleção de ensaios aborda a terceira questão mencionada: a evolução da linguagem. Apesar de afirmações em contrário, a verdade é que sempre houve um forte interesse sobre a evolução da linguagem”, escrevem Berwick e Chomsky.
Ao longo de quatro capítulos, são desfiados centenas de pesquisadores que gravitam nas áreas da Linguística e da Biologia. “Em particular, temos agora boas razões para acreditar que um componente-chave da linguagem humana – o motor básico que coordena a sintaxe – é muito mais simples do que a maioria teria pensado apenas algumas décadas atrás. Esse é um resultado muito bem-vindo tanto para a Biologia Evolutiva como para a Linguística”, apontam.
Para se ter uma ideia do terreno à frente, Berwick e Chomsky concordam com a ideia de que “a Linguística está no estágio em que a Genética se encontrou imediatamente após Mendel. Existem regras (de produção de sentenças), mas ainda não sabemos quais mecanismos (redes neurais) são responsáveis por elas”, pinçada de um dos pensadores que recheiam o texto.
Nesta busca por saber o que nos torna humanos e como a linguagem surgiu geneticamente, o leitor vai se deparar com um conceito de linguagem que se traduz como objeto particular do mundo biológico, percorrendo temas como a eficiência computacional do idioma enquanto um sistema de pensamento e compreensão; a tensão entre a ideia darwiniana de mudança gradual a partir de um antepassado e a percepção contemporânea sobre mudanças evolutivas e linguagem; e as evidências oriundas de animais não humanos, em particular a aprendizagem vocal em aves canoras.