Resenha de Rodrigo do Quarto Sinistro sobre "A invenção da brasilidade"

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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

A invenção da brasilidade
por  Rodrigo do Quarto Sinistro

Não é de hoje que pintam o Brasil como um grande caldeirão cultural, numa miscelânea de povos que dariam o verdadeiro sentido ao termo “pluralismo”. Nessa mistura a identidade nacional surgiria, com raízes em locais distantes e outros próximos do país. Da região ibérica tradicional, assim como do centro da Europa e do continente africano, mas também do distante leste eslavo e do mais longínquo oriente nipônico.

O acadêmico norte-americano Jeffrey Lesser, professor da Universidade Emory, em Atlanta, e professor convidado na Universidade de São Paulo, decidiu compilar um grandioso estudo histórico e antropológico a respeito das origens dessa formação brasileira, num livro intitulado “A Invenção da Brasilidade”. Sua pesquisa parte do pressuposto basilar de que para compreender nosso cenário atual, torna-se mais do que necessária conhecer o nosso passado.

É resgatando a história das políticas de imigração, desde os inicias séculos da colônia lusitana, passando pelo processo de independência e consolidação do império brasileiro, até a formação da república e os dias atuais. Além das já clássicas análises econômicas e dos ciclos que movimentaram o país, Lesser explora fatores culturais para demonstrar de onde vieram e por qual motivo vieram povos de origens tão divergentes.

O favoritismo pelos caucasianos tinha o objetivo evidente de tornar a nação mais branca e, segundo as noções do passado, mais civilizada e desenvolvida. A presença em massa de negros devido a escravidão era vista como uma ameaça ao progresso, o que tornaria o Brasil um país de miscigenação degenerada. Por isso a ênfase na vinda de italianos, alemães, espanhóis e até japoneses – ditos como a única nação branca do oriente. O racismo, portanto, mostra-se inegável na constituição da sociedade brasileira, velada por uma suposta harmonia de raças, mas que na verdade reproduzia uma hierarquia tida como natural: brancos no topo, asiáticos no nível intermediário e negros ocupando as posições inferiores.

No entanto, nos nossos tempos, as dicotomias raciais são menos óbvias e a etnicidade se mostra mais heterodoxa, ao contrário do que aparenta ser os Estados Unidos. Lesser também coloca os imigrantes como sujeitos de ação e de posicionamento, sem considera-los somente vítimas do Estado e de suas políticas – fatos que são inegáveis, mas que não são os únicos existentes.

Nos aspectos culturais e sociais, a herança dos estrangeiros também se mostra presente. Seja na arquitetura de todas as regiões brasileiras, como os traços alemães no sul do país, ou as construções holandesas no nordeste, seja nos sotaques que também não podem ser analisados sem a influência das mais variadas línguas, como por exemplo os italianos em São Paulo, os portugueses no Rio de Janeiro e os já citados germânicos na região sul.

Do local com o de fora surgem coisa novas e originais, tanto é que os restaurantes italianos em São Paulo seriam irreconhecíveis na Itália, e os recém chegados chineses vendem yakissoba japonês e não chinês – por qual razão? Leia a obra e descubra.

Publicado originalmente no site Pauta Livre News

Assessoria de imprensa da Fundação Editora da Unesp