Roger Chartier investiga a mobilidade das obras traduzidas entre os séculos XVI e XVIII

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segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Historiador examina casos notáveis de mobilidade em traduções de autores como Castiglione, Cervantes, Shakespeare, Gracián e Molière, sempre apoiado em vasta erudição e paixão constante pelo livro  

São muitos os agentes que, de alguma forma, interferem no processo de produção dos livros. No circuito editorial da Europa moderna, o texto do autor materializado em obra só chegava às mãos do leitor após passar por diversos intermediários: censores, copistas, editores, impressores, revisores etc. Sabendo disso, o historiador Roger Chartier examina o problema da mobilidade das obras do ponto de vista da tradução dos textos entre os séculos XVI e XVIII, que dá origem ao magnífico Editar e traduzir: mobilidade e materialidade dos textos (séculos XVI-XVIII), lançamento da Editora Unesp. Além disso, vale notar o sentido abrangente da investigação levada a cabo pelo autor: ele aborda tradução com significado não apenas de passagem das palavras de uma língua a outra, mas também de translação, isto é, qualquer tipo de mudança verificada nos textos (e, por conseguinte, nas obras) ao longo de suas sucessivas versões, até mesmo no registro de uma única língua.

“Como entender a relação entre a obra e o texto? As obras parecem desafiar o tempo e permanecer sempre iguais a si mesmas: Don Quijote é Don Quijote desde 1605 até hoje”, anota Chartier. “No entanto, elas foram e ainda são lidas, ouvidas e compreendidas de numerosas e diversas maneiras. Disseminadas em inúmeros textos, migraram entre voz e escrita, entre gêneros e línguas, entre modos de publicação e edição. Mudando a letra, a apresentação ou o status da obra, a mobilidade do texto está relacionada às diversas propriedades do discurso, a começar pelo regime de atribuição de autoria, que pode preferir o nome do autor ou o anonimato. As variações do texto também fazem parte dessa mobilidade.”

Ao longo de oito eixos, Chartier analisa casos notáveis de mobilidade em traduções de autores como Castiglione, Cervantes, Shakespeare, Gracián e Molière, sempre demonstrando vasta erudição no que tange às fontes primárias, além do compromisso metodológico de assumir, à maneira de Michel de Certeau, o trabalho do historiador enquanto prática “científica”. Todavia, Editar e traduzir não é um livro exclusivo para especialistas ou pesquisadores profissionais. O leitor vai se deliciar com várias curiosidades históricas.

“Iniciamos com um capítulo ditado pela urgência dos tempos. Editar e traduzir, mas também escrever e ler são práticas que estão sempre inseridas em momentos particulares. Podem ser estimuladas ou coibidas, desvirtuadas por falsificações ou a serviço da verdade. Hoje, contar a história dessas práticas não pode omitir essa realidade, num momento em que é grande, em todas as partes do mundo, a vontade de reescrever o passado para justificar as crueldades do presente.”, alerta. “A memória é alvo dessas tentativas que nos impõem representações manipuladas e mentirosas do que já passou. A própria história é ameaçada quando a sua capacidade de produzir conhecimento verdadeiro é desrespeitada ou negada.”  

Sobre o autor – Roger Chartier, formado em História pela Universidade Sorbonne e ligado à historiografia da Escola dos Annales, leciona no Collège de France, atualmente trabalhando em cursos sobre história do livro e da leitura. Pela Editora Unesp, publicou A aventura do livro – do leitor ao navegador (1998), Os desafios da escrita (2002), Leituras e leitores na França do Antigo Regime (2004), Inscrever & Apagar (2007) e A mão do autor e a mente do editor (2014).

Título: Editar e traduzir: mobilidade e materialidade dos textos (séculos XVI-XVIII)
Autor: Roger Chartier
Tradução: Mariana Echalar
Número de páginas: 408
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 88
ISBN: 978-65-5711-145-1

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