Baseando-se em fontes literárias, teológicas e psicanalíticas, o proeminente pensador britânico sugere que o mal é um fenômeno real com força palpável em nosso mundo contemporâneo
Como escrever sobre o problema do mal de maneira razoável, sem sobrecarregar o leitor com fórmulas metafísicas da teologia e da filosofia, e, ao mesmo tempo, sem deprimi-lo inutilmente com um compêndio histórico das desgraças humanas, de Adão e Eva à bomba atômica? Terry Eagleton enfrenta esse desafio fazendo de seu livro Sobre o mal, lançamento da Editora Unesp, uma espécie de caldeirão das bruxas de Macbeth, com ingredientes diversos, desde os mais sutis até aqueles considerados absolutamente repugnantes.
A receita do autor consiste em harmonizar uma compilação de fatos atrozes do mundo real, passando por guerras, assassinato de crianças, fanatismo religioso e outros tipos de horrores, na mesma mistura em que são servidas citações de obras notáveis – em particular, textos da literatura que nos ajudam a imaginar o mal a partir da ficção. Tudo isso muito bem temperado com pitadas de ironia e uma boa dose de humor.
“A palavra ‘mal” geralmente é uma maneira de pôr fim a uma discussão, como um soco no plexo solar. Como a ideia de gosto, a respeito do qual supostamente não se discute, ela é uma espécie de termo que provoca uma pausa, pausa essa que impede o surgimento de outras questões”, pontua Eagleton. “Ou bem as ações humanas são explicáveis, e nesse caso elas não podem ser más; ou bem elas são más, e nesse caso não há nada mais a ser dito a respeito delas. O argumento deste livro é que nenhum desses pontos de vista é verdadeiro”.
Seu argumento é que o mal não é fundamentalmente misterioso, muito embora ele transcenda o condicionamento social cotidiano. “A meu ver, o mal é realmente metafísico, no sentido de que ele adota uma postura em relação à vida em si, não apenas em relação a esta ou àquela parte dela. Fundamentalmente, ele quer eliminá-la por completo”, explica. “Mas não estou sugerindo, com isso, que ele seja necessariamente sobrenatural, ou que careça de qualquer causalidade humana.”
Neste livro denso e potente, Eagleton não oferece uma definição objetiva daquilo que denomina o mal. Muito embora o autor seja cuidadoso ao distinguir o mal em si mesmo e as manifestações do mal, compreendidas nos atos de maldade ou em acontecimentos como o Holocausto, ele nunca tenta convencer o leitor de que a questão é simples a ponto de ser resolvida na forma de um verbete de dicionário. Para Eagleton, que se inspira fortemente no conceito freudiano de pulsão de morte, o mal diz respeito ao “gozo obsceno” experimentado pelos seres humanos diante da morte, seja a própria, seja a alheia.
“Em última análise, o mal tem tudo a ver com a morte – mas tanto com a morte do malfeitor como daqueles que ele extermina.” Parece não haver lugar para otimismo em meio a esse cenário. De todo modo, se no caldeirão de Eagleton encontramos Thanatos, é porque ali também podemos encontrar Eros. Freud explica que a pulsão de morte é inseparável do amor, e talvez isso nos autorize a acreditar nas palavras do próprio Eagleton: “O amor tanto é aquilo de que precisamos para viver como é aquilo para o qual nascemos para fracassar. Nossa única esperança é aprender a fracassar melhor.”
Sobre o autor – Terry Eagleton é professor de Literatura Inglesa da Universidade de Oxford. Entre seus vários trabalhos publicados no Brasil, a Editora Unesp lançou Ideologia: uma introdução (1997), Marx e a liberdade (1999), A tarefa do crítico (2010), A ideia de cultura (2ª edição, 2011), Marxismo e crítica literária (2011) Doce violência: a ideia do trágico (2013) e O sentido da vida: uma brevíssima introdução (2021).
Título: Sobre o mal
Autor: Terry Eagleton
Tradução: Fernando Santos
Número de páginas: 152
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 48
ISBN: 978-65-5711-142-0
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