Texto inaugural de Condillac investiga operações da alma humana e linguagem

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segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Singular na história da filosofia, livro resulta de combinação engenhosa entre
teoria do conhecimento e teoria da linguagem e seus signos
           

Mistura de empirismo radical e filosofia da linguagem, a obra de estreia de Étienne Bonnot de Condillac, Ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos – lançamento da Editora Unesp – é um livro singular na história da filosofia. Nela surge uma sistemática e minuciosa reconstituição das operações da alma humana, ao mesmo tempo em que se retraça a geração das faculdades do pensamento. A intenção de Condillac é  destronar a “metafísica ambiciosa” dos sistemas do racionalismo clássico e fundamentar os alicerces de uma ciência, hoje conhecida como “semiótica, ou ciência dos signos”.

“’O livro de Condillac deveria inaugurar uma ciência sem nome. E ela só poderia se tornar possível através de uma crítica da metafísica.’ Com essas palavras, Jacques Derrida inicia “A arqueologia do frívolo”, um ensaio sobre Condillac publicado pela primeira vez em 1973 como apresentação ao Ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos (1746)”, anota o organizador e tradutor do texto, Pedro Paulo Pimenta. “Derrida confirmava assim o lugar de Condillac no panteão dos filósofos eleitos pelo estruturalismo (e pelo pós-estruturalismo) como referências indispensáveis ao pensamento contemporâneo.”             

O livro é composto por três partes. A primeira dedica-se a examinar os “materiais de nossos conhecimentos” e as “operações da alma”; a segunda, praticamente do mesmo tamanho, versa sobre a linguagem e o método. “A descontinuidade entre eles, no plano textual, é patente”, anota Pimenta. [A primeira parte] encerra-se com uma discussão sobre o papel dos sentidos na formação das ideias de pessoas desprovidas da visão. [A segunda] abre-se com uma história hipotética da origem e do desenvolvimento da linguagem, o que parece não ter relevância direta para o que foi dito antes. Mas a quebra entre as duas partes é apenas aparente e recobre uma continuidade profunda.” Há ainda ao final excertos de Arte de escrever, outro texto de Condillac.

“Extremamente radical quanto à tese de que todo conhecimento ou mesmo de que toda vida mental começa na sensação, o filósofo francês produziu uma versão muito peculiar e original dessa posição filosófica”, escreve o filósofo Fernão de Oliveira Salles no Posfácio. “Condillac se dedica longamente ao exame da linguagem, não é tão somente para mostrar seu papel no comércio de ideias e os perigos que ela encerra. Trata-se, isto sim, de mostrar que, além de servirem à comunicação, os signos linguísticos, essas 'alavancas do espírito', desempenham um papel ativo no desenvolvimento daquelas operações.” Ou seja, o filósofo francês inaugura segundo a qual as faculdades mais complexas do espírito estão condicionadas à posse de uma linguagem articulada.

Sobre o autor - Étienne Bonnot, abade de Condillac (1714- 1780), foi um dos mais radicais e significativos expoentes do empirismo do período das Luzes. Influenciou fortemente seus contemporâneos – com destaque para Diderot, D’Alembert e Rousseau – e permanece como referência para a filosofia de nosso tempo. Dele, a Editora Unesp publicou Lógica e outros escritos (2017).  

TítuloEnsaio sobre a origem dos conhecimentos humanos: seguido de Arte de escrever
Autor: Étienne Bonnot Condillac
Organizador e tradutor: Pedro Paulo Pimenta
Número de páginas: 383
Formato: 14 x 21 cm
Preço: R$ 69,00
ISBN: 978-85-393-0734-0 

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp