Teoria da ação comunicativa reconstrói um conceito de razão que não se fundamenta em termos instrumentais, mas sim em um ato comunicativo emancipatório
Se desde muito tempo são raros os pensadores capazes de criar passagens entre as áreas mais especializadas das ciências humanas e da filosofia, ainda mais raros são aqueles que, ao fazê-lo, podem reconstruir a fundo as contribuições de cada uma delas, rearticulá-las com um propósito sistemático e, ao mesmo tempo, fazer jus às suas especificidades. Jürgen Habermas está entre estes. E, dele, a Editora Unesp traz aos leitores brasileiros a tradução renovada dos dois volumes de Teoria da ação comunicativa, listado pela Associação Internacional de Sociologia como o oitavo livro mais importante da área no século XX.
“Publicada em 1981, a Teoria da ação comunicativa reúne em seus dois vastos volumes os esforços sistemáticos que Habermas empreendeu por mais de dez anos para fundamentar uma teoria crítica da sociedade que pudesse justificar e explicar seus parâmetros críticos, partindo de seu próprio objeto, as sociedades modernas capitalistas”, registra na apresentação o tradutor do texto, Luiz Repa, professor e pesquisador de Filosofia da USP. “Habermas procura desenvolver aí uma crítica do capitalismo tardio da segunda metade do século XX, procura explicar a origem de uma série de patologias sociais e conflitos correlacionados, cuja natureza não se deixaria mais resumir às estruturas de classe típicas do capitalismo liberal, como o século XIX conhecera em boa parte do ocidente.”
De forma a cumprir com seus objetivos, o autor intenta cumprir exigências as mais diversas, em diferentes e cada vez mais complexos níveis de argumentação, como o papel da compreensão hermenêutica na teoria social, a emergência de estruturas de consciência modernas, a complexidade da racionalização cultural, o uso da teoria dos atos de fala para traçar um conceito de racionalidade e ação comunicativa, ou seja, todos os meios conceituais para erguer um conceito de sociedade em dois níveis, articulado segundo os paradigmas clássicos de sistema e mundo da vida.
O primeiro volume recebe o subtítulo de Racionalidade da ação e racionalização social, ao passo que o segundo ganha a composição Para a crítica da razão funcionalista. Como indicam, o primeiro livro tem como meta principal a reconstrução da teoria da ação social e da racionalização a partir de uma ampla interpretação da obra de Max Weber. Já o segundo, por sua vez, reconstrói as obras de Mead, Durkheim e Parsons para esboçar os potenciais e os limites respectivos da teoria da ação comunicativa e da teoria dos sistemas, combinando-as no conceito dual de sociedade como sistema e mundo da vida.
“A tentativa habermasiana de resgatar o projeto moderno do Esclarecimento com os meios da teoria da ação comunicativa e, com isso, o tipo de explicação dos limites históricos desse projeto podem certamente ganhar um novo interesse no contexto dos anos 2020”, explica Repa. “Depois de décadas, as críticas radicais ao Esclarecimento por parte da esquerda, geralmente identificando razão e poder, têm de enfrentar as consequências drásticas da negação radical do Esclarecimento por parte da extrema-direita.”
Segundo Repa, não somente os governos reacionários, mas também parcelas volumosas das populações, põem sob suspeita a ciência, a intelectualidade, as universidades, a imprensa, os direitos fundamentais, a democracia, atacando ao mesmo tempo o feminismo, o antirracismo, as comunidades LGBTQIA+, e tudo mais que cheire a socialismo. “Na medida em que Habermas desarma a identificação entre razão e poder, sem deixar de explicar como a racionalização se ajusta aos imperativos da modernização capitalista, o conceito ‘reconstrutivo’ de Esclarecimento pode servir de orientação normativa também nestes tempos sombrios.”
Sobre o autor
Um dos mais importantes filósofos da atualidade, Jürgen Habermas, nascido na Alemanha em 1929, criou uma visão sobre as relações entre linguagem e sociedade. Foi professor de Filosofia da Universidade de Heidelberg e da New York School for Social Research, além de codiretor do Instituto Max Plank para a Investigação das Condições de Vida do Mundo Técnico-Científico, em Starnberg. Pela Editora Unesp, já são 16 obras do pensador publicadas na Coleção Habermas.
Título: Teoria da ação comunicativa
Autor: Jürgen Habermas
Tradução e apresentação: Luiz Repa
Volume 1: Racionalidade da ação e racionalização social
Número de páginas: 559
Volume 2: Para a crítica da razão funcionalista
Número de páginas: 653
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ 184
ISBN: 9786557111604
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