Acompanhando a tradição aberta por Herman Melville, francês desvenda drama de homens que enfrentam um sem-número de dificuldades para sobreviver em alto-mar
Victor Hugo transcendeu a condição de escritor. Com forte engajamento político e personalidade pública influente pela contundência de suas ideias e posições, fez parte da elite intelectual da França do século XIX. Terceiro filho do casal formado por Sophie Trébuchet e Joseph Léopold Sigisbert Hugo, o escritor teve uma infância itinerante – a família viajava e se mudava com frequência em função da carreira militar do pai, futuro general do exército napoleônico. Assim, o jovem Victor Hugo pôde conhecer realidades diversas, cujas influências políticas, sociais e culturais o ajudaram a construir a literatura com que transformaria o cenário letrado Ocidental.
A intensidade de sua vida encontra eco em suas histórias. Se em Os miseráveis vemos o autor exorcizar muitas de suas diferenças políticas com Napoleão III, captando o clima tenso do autoexílio a que se impusera na abordagem das misérias e grandezas personificadas em Jean Valjean, neste Os trabalhadores do mar, de 1866, Victor Hugo descreve a obsessão de um homem por uma mulher – o operário Gilliatt e a bela Déruchette. O texto chega aos leitores lusófonos pela Coleção Clássicos da Literatura Unesp, em inédita tradução integral do professor Jorge Coli.
“O autor nos surpreende aqui com um romance épico”, registram os editores. “Acompanhando a tradição aberta por Herman Melville em 1851 com Moby Dick, Os trabalhadores do mar é um drama de homens que enfrentam um sem-número de dificuldades para sobreviver em alto-mar. O drama se concentra no Durande, navio a vapor de propriedade de Lethierry, tio de Déruchette, que passou a criá-la após ela ter ficado órfã. Sabotado pelo capitão Clubin, o navio naufraga em águas hostis. Para minimizar o prejuízo, Lethierry quer encontrar alguém que seja capaz de resgatar ao menos o maquinário do navio – e Déruchette, para estimular candidatos à missão, promete se casar com aquele que for capaz de tal façanha. Eis o cenário pintado para nosso herói, Gilliatt. As cores épicas da trama já se insinuam pela dificuldade desmedida do desafio, do qual um ser humano normal não seria capaz de dar conta. Não por acaso, Gilliatt é descrito como alguém bastante singular: a mãe é vista pela vizinhança como bruxa, o que faz com que o vejam, consequentemente, como um feiticeiro. Sozinho em seu singelo barco, ele se embrenha no mar, determinado a encontrar o navio naufragado e obter a mão da donzela prometida, batendo-se com toda sorte de dificuldades. Humano em missão com ares mitológicos, Gilliatt é uma das ferramentas com as quais Victor Hugo inscreve mais este romance na posteridade.”
“Os trabalhadores do mar é uma epopeia, romance vazado em poema épico. ‘Ilíada de um só’, como o próprio autor o definiu numa passagem. Tem espírito de grandeza poética. Um capítulo como ‘O que se vê e o que se vislumbra’ – de maravilhosa beleza – sugere ‘Le Bateau ivre’, de Rimbaud, que era um entusiasta de Hugo; o amor pela palavra rara, melodiosa, misteriosa, algumas inventadas, mais presentes pela sonoridade do que pelo sentido, faz pensar em Mallarmé; o fascínio pelo termo técnico, preciso, precede esta outra épica admirável, Os sertões, de Euclides da Cunha. Diante de uma obra assim, o tradutor se sente tremer”, anota o tradutor Jorge Coli.
“É preciso não apenas buscar o espírito estilístico, como encontrar o equivalente do vocabulário. As frases de Hugo, algumas vezes muito longas, possuem uma plasticidade calma, assentada, como se quisessem recobrir, por adesão, aquilo que enunciam, que descrevem, que narram”, destaca Coli, cuja tradução retoma o texto da edição original de 1866, publicada em Paris pela Librairie Internationale, A. Lacroix, Verboeckhoven et Cie, editores.
Sobre a coleção – Clássicos da Literatura Unesp constitui uma porta de entrada para o cânon da literatura universal. Não se pretende disponibilizar edições críticas, mas simplesmente volumes que permitam a leitura prazerosa de clássicos. A seleção de títulos é conscientemente multifacetada e não sistemática, permitindo o livre passeio do leitor. Confira aqui as obras já publicadas.
Título: Os trabalhadores do mar
Autor: Victor Hugo
Tradução: Jorge Coli
Número de páginas: 520
Formato: 13,5 x 20 cm
Preço: R$ 89
ISBN: 978-65-5711-109-3
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