Por que a música nos cativa tanto? Neste livro, Francis Wolff perscruta este mistério, partindo de questões simples para chegar a profundas revelações sobre a música e a natureza humana. “‘A música é a arte dos sons.’ Aos oito anos, fiquei maravilhado ao descobrir essa definição. Não sei se essa foi a minha iniciação em ‘teoria musical’, mas acredito que tenha sido minha iniciação em filosofia. [...] Só mais tarde descobri a armadilha das definições. Pois, ao mesmo tempo que elas parecem dar uma resposta satisfatória a um só ‘o que é?’, elas nos impõem outros ‘o que é?’ sem reposta. ‘O que é a arte?’ e ‘o que é o som?’ – e assim por diante, indefinidamente.”
Francis Wolff nasceu em Ivry-sur-Seine, na França, em 1950. É filósofo e professor emérito da École Normale Supérieure de Paris. De 1980 a 1984, lecionou Filosofia Antiga na Universidade de São Paulo. Pela Editora Unesp, publicou Nossa humanidade (2013), Três utopias contemporâneas (2018), Pensar com os antigos e Em defesa do universal (ambos em 2021), e O mundo em primeira pessoa (2022).
Derrubada a ideia de que a humanidade estaria situada entre a divindade e a animalidade, onde, e em que grau, o homem difere dos outros seres vivos? A racionalidade, suposta marca e alavanca da supremacia humana sobre as outras espécies, bastaria como elemento definidor da condição humana?
Perdemos os dois marcos que outrora nos permitiram distinguirmo-nos dos deuses e dos animais. Não sabemos mais quem somos, nós humanos. E daí nascem novas utopias. Por um lado, o pós-humanismo alega negar nossa animalidade e nos tornar deuses, a quem a imortalidade é prometida pelas virtudes da tecnologia. Por outro lado, o animalismo nos quer animais como os outros, e convida outros animais a fazerem parte de nossa comunidade moral. Forgemos então uma nova utopia de acordo com nossos próprios moldes. Não procuremos mais negar as fronteiras naturais - aquelas que nos separam dos deuses ou dos animais - e defendamos um humanismo consequente, isto é, um cosmopolitismo sem fronteiras.
Este livro é representativo da posição de relevo que a música ocupa na vida – e na obra – de Rousseau, seja em escritos teóricos ou na composição de obras musicais, que lhe renderam certo prestígio na corte de Luís XV. Amante da música antes de ser filósofo, Rousseau recebera como encomenda de Diderot e d'Alembert para a Enciclopédia, em 1749, artigos sobre o tema. O presente Dicionário tem como experiência seminal a redação daqueles artigos. Os verbetes que o constituem, resultado de anos de aperfeiçoamento após a experiência anterior, também refletem preocupações enciclopédicas e filosóficas de Rousseau, bem como reflexões críticas, demarcações de gosto e o posicionamento público sobre sua ideia do que deveria ser a boa música.
As ideias universalistas devem recuperar seu poder mobilizador e crítico: contra a ditadura das emoções e opiniões, defenda-se a razão científica; contra o império das identidades, deve ser reconstruída uma ética da igualdade e da reciprocidade. “Esta é a ambição deste livro: devolver às ideias universalistas toda a sua potência crítica e mobilizadora. O que importa, hoje, é reapropriar-se das ideias das Luzes, fundamentar para a nossa época essas ideias depreciadas pela nossa própria época – que, no entanto, precisa mais do que nunca delas. Assentar esses conceitos desvalorizados sobre uma base sólida. O norte continua no mesmo lugar. A bússola é que falhou.”
“Pode ser que somente se possa pensar dentro de formas herdadas. Mas isso não significa que devemos nos contentar em apenas aceitar a herança. Se pensarmos com a filosofia antiga, talvez seja possível filosofar hoje em dia. Tomar emprestado dos antigos é pegar deles o que continua sendo deles, portanto é tentar lê-los fielmente, adequando nosso olhar histórico sobre eles, mas é também tentar compreendê-los por completo, integrando seu pensamento ao nosso. É esforçar-se para sair da alternativa: história ou filosofia?”