Portugal - Século XIV e XV
A escrita do passado entre monges e leigos é o testemunho direto da atual vitalidade dos estudos medievais no Brasil, em especial aqueles dedicados às novas problemáticas históricas sobre o reino português nos séculos finais da Idade Média. Leandro Alves Teodoro revisita as fontes cronísticas portuguesas oriundas de dois lugares de produção: o scriptorium do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e a corte régia quatrocentista da dinastia de Avis. O mérito deste livro está na comparação entre esses dois tipos de crônicas, desvelando o percurso da escrita da história em dois momentos distintos. No século XII, a fundação do mosteiro crúzio dos cônegos regrantes de Santo Agostinho esteve entrelaçada com a própria criação do reino de Portugal. Foram os monges os responsáveis pela constituição e pelo ordenamento da memória de glórias do reino. A partir de 1385, o autor analisa o processo de transformação dessa história monástica em um saber histórico laico nas mãos dos cronistas régios. Nesse processo, foram incorporados valores cristãos para que essas crônicas pudessem ter igualmente uma ação pedagógica na formação dos nobres cavaleiros do reino, buscando idealizar o presente e o futuro por meio dos triunfos do passado. Com um texto bem escrito, Teodoro propicia tanto a leitura prazerosa quanto o retorno às origens da arte da composição cronística portuguesa.
Leandro Alves Teodoro é doutorando em História pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), campus de Franca. Seus primeiros estudos versaram sobre o fazer história medieval e, atulamente, tendem a analisar o papel social dos tratados de confissão na construção de um modelo de homem casado em Portugal nos séculos XIV e XV.
O objetivo do historiador francês Georges Minois é reencontrar as maneiras como o ser humano utilizou o riso ao longo da História. O humor, para o autor, é, portanto, um fenômeno que pode esclarecer, em parte, a evolução humana. O riso é uma das respostas fundamentais do ser humano perante o dilema da existência. Verificar como ele foi e é utilizado ao longo da História constitui o objetivo deste livro. Exaltar o riso ou condená-lo, para o autor, revela a mentalidade de uma época e sugere uma visão de mundo, podendo contribuir para esclarecer a própria evolução humana.
A escrita da história: novas perspectivas representa uma mostra significativa das mais recentes tendências da metodologia e da prática historiográfica. Peter Burke reuniu neste volume textos de alguns dos mais importantes historiadores contemporâneos, como Roy Porter, Ivan Gaskell, Joan Scott, Robert Darnton, Jim Sharpe, Henk Wesseling, Giovanni Levi e ele próprio. O resultado é algo absolutamente diverso de tudo o que se dispõe sobre o assunto.
O conceito de cosmovisão, ao qual pouco se recorre nos processos analíticos por parte de historiadores e demais pesquisadores de humanidades, será uma ferramenta fundamental que norteará os temas abordados neste livro, a começar com a análise de Zilda Iokoi sobre Coroas de glória, lágrimas de sangue, livro de Emília Viotti da Costa. Além do livro de Emília, obras de historiadores como E. P. Thompson, Nicolau Sevcenko, Aby Warburg, Tzvetan Todorov, Peter Burke e Chalmers Johnson serão igualmente objeto de exame das reflexões que compõem este volume. Em todos esses casos, autores diversos e temas por vezes díspares sugerem visita ou revisita, sempre instigante, ao clássico tema do significado de História e da tarefa do historiador.
Historiadora das teorias e das formas urbanas e arquitetônicas na Universidade de Paris VIII, a autora reconstitui a concepção, ao longo do tempo, do que vem a ser patrimônio histórico. Isso inclui um mergulho no conceito de monumento histórico e nas diferenças entre conservação e restauração. Verifica também como a indústria cultural convive com o patrimônio e como ele se relaciona com o turismo.
Os ensaios deste livro do historiador François Dosse discutem, entre outras coisas, a questão da identidade nacional tal como ela orientou o discurso histórico francês até o começo do século XX e o seu abandono sob a égide das ciências sociais e do estruturalismo; a importância da hermenêutica de Paul Ricoeur para o historiador ou ainda as interpretações de Maio de 68 e a influência exercida por aquele acontecimento-ruptura sobre a disciplina histórica. O autor analisa também a trajetória de alguns dos principais representantes da Nova História, como Georges Duby, Fernand Braudel e François Furet, e se detém sobre luminares do pensamento estruturalista, como Roland Barthes, Jacques Lacan e Michel Foucault. Apesar da diversidade aparente dos temas, os textos retomam as preocupações de François Dosse para com o estruturalismo e suas relações com a história (e seu esfacelamento).