Nilze Maria de Azeredo Reguera tenta decifrar criticamente uma das obras mais densas e radicais da escritora paulista Hilda Hilst, os cinco textos em prosa reunidos no livro Fluxo-floema, publicado pela primeira vez em 1970. A autora parte do princípio de que o livro delineia um movimento de oscilação da artista, que tanto colocaria em cena quanto a problematizaria a tradição modernista de que ela foi herdeira, por meio de um questionamento implacável das utopias e do lugar que supostamente caberia ao artista ocupar no final do século 20, em um contexto de opressão. A leitura de cada um dos cinco textos de Fluxo-floema é feita a partir da observação atenta dos procedimentos técnicos empregados por Hilst, sobretudo o de alegorização, em uma abordagem que vai paulatinamente desmontando e reorganizando os textos, nos quais a linguagem é levada ao paroxismo da expressão inclusive a fim de celebrar ritualmente a multiplicidade espiritual e sensorial do ser humano. A pesquisadora também procura situar os cinco textos dentro do conjunto da produção hilstiana, já que Fluxo-floema é um livro que dialogaria com várias outras obras da escritora. Dessa forma, Reguera obtém significados inusitados e atuais tanto do livro em questão quanto de outros trabalhos de Hilst.
Nilze Maria de Azeredo Reguera é doutora em Letras pela Unesp e pós-doutoranda pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, com especialização em Literatura.
Publicado em 1974, o livro A via crucis do corpo, de Clarice LIspector, foi recebido pela crítica como uma "obra menor", "um desvio", até mesmo "um lixo", em relação aos demais textos da escritora, que o teria produzido por encomenda, em um momento de dificuldades financeiras. Com o propósito de questionar essa crítica cristalizada e, a seu ver, injusta, Nilze Reguera realiza um estudo minucioso sobre esse livro, demonstrando suas qualidades como um trabalho de (e com) a linguagem e como um lugar de problematização de certos conceitos. Defende a necessidade de reavaliar posições interpretativas que não levam em conta sua ambivalência constitutiva, desvelada quando A via crucis do corpo é lida sob a perspectiva da encenação e do fingimento, de modo a se articular perfeitamente ao conjunto da obra legada pela escritora.