O objetivo desta coletânea é demonstrar como a organização de corpora linguísticos diferentes atende aos diversos tipos de pesquisa linguística, sejam eles centrados numa mesma língua – abordando diferentes fenômenos dessa
língua – ou focados em outras línguas naturais.
A obra agrega sete pesquisas linguísticas de diferentes estudiosos – que se amparam em aportes teóricos também diversos –,as quais têm como base para coleta de dados a organização de algum tipo de corpus linguístico. De enfoque tanto sincrônico quanto diacrônico, de cunho variacionista e também formalista, os trabalhos englobam os quatro níveis básicos de análise linguística: o fonológico, o morfológico, o semântico e o sintático.
Talita de Cássia Marine apresenta, no primeiro capítulo, uma análise descritivo-comparativa do sistema de pronomes demonstrativos do Português do Brasil e do Português de Portugal. Ela analisa cartas de leitoras da revista brasileira Capricho, e da portuguesa Ragazza, para caracterizar a configuração, se ternária ou binária, em que se encontram tais pronomes nas referenciações anafóricas no uso contemporâneo da língua.
No capítulo 2, Caroline Carnielli Biazolli avalia o uso de textos jornalísticos como fonte de extração de dados para o estudo de processos de variação e mudança linguística. Seu foco é a posição dos clíticos pronominais, adjungidos a lexias verbais simples e a complexos verbais, e o corpus são textos do jornal A Província de São Paulo (atualmente O Estado de S. Paulo), entre 1880 e 1920.
O terceiro capítulo, de Juliana Bertucci Barbosa, apresenta um estudo diacrônico de textos do Português Brasileiro do século 16 ao 20, que procura, entre outros objetivos, verificar valores semânticos do Pretérito Perfeito Simples e do Perfeito Composto do modo Indicativo da língua.
Leandro Silveira de Araújo, autor do capítulo 4, baseia-se em um corpus constituído de entrevistas radiofônicas, representativas de umagrande cidade de cada região dialetal da Argentina para estudar o uso doPretérito Perfecto Compuestono espanhol falado no país.
No quinto capítulo Alexandre Monte analisa a presença ou a ausência da marca formal de plural no verbo na relação sujeito/verbo, com o objetivo de compreender os fatores linguísticos e sociais que condicionam/determinam a variação linguística no âmbito da concordância verbal. O corpus da pesquisa é uma amostra da língua falada de uma comunidade periférica de São Carlos, interior de São Paulo.
As Cantigas de Santa Maria, de Afonso X compostas na segunda metade do século 13 em galego-português, e Os Lusíadas (1572), de Camões serviram de corpora para Juliana Simões Fonte e Gladis Massini-Cagliari no estudo apresentado no capítulo 6. As autoras analisam rimas da poesia remanescente de períodos passados da Língua Portuguesa para demonstrar a contribuição de textos poéticos no estudo das vogais do Português Antigo.
O último capítulo resume os resultados da tese de doutorado de Daniel Soares da Costa, que organiza a obra. Ele apresenta uma nova proposta metodológica, baseada em uma conexão entre a música e a linguística como ferramenta para a coleta de dados relativos à prosódia de línguas mortas. O autor toma as versões transcritas por Anglés (1943) das cem primeiras Cantigas de Santa Maria de Afonso X para analisar a atribuição do acento lexical e secundário no Português Arcaico.
Autor deste livro.
Para o filósofo Jean-Paul Sartre, a literatura redescobre a sua função na sociedade quando a sua percepção da realidade passa a ser constituída pela consciência da historicidade. Isso significa um mergulho brutal na atualidade de cada um. A prática literária é então entendida como uma "ação na história", ou seja, uma síntese entre o irredutível e o relativo; e entre "o absoluto moral e metafísico" e a contingência histórica. Neste livro, o filósofo Franklin Leopoldo e Silva mostra por que, para o pensador francês, a tarefa ética da literatura é construir a mediação necessária para que o homem tome consciência de sua alienação. Portanto, escrever é agir, pois significa comprometer-ser com uma ação social conreta e prática, não se limitando apenas a uma atitude de contemplação do mundo.
A obra de Haug é instância de peso dentro do pensamento estético alemão. Suas teses, sempre guiadas pela originalidade de tratamento e fertilidade intelectual, sugerem uma visão do campo onde melhor pode render, no plano da estética, a análise das formas econômicas. Por este prisma, este livro revitaliza o debate a respeito do impacto e presença da produção e reprodução capitalistas sobre a criação e consumo intelectual e estético.
Há quase trinta anos, o sociólogo, antropólogo e filósofo francês Bruno Latour vem se dedicando a refletir sobre o casamento, não livre de adversidades, da ecologia com a política. Se não é exatamente recente o boom dos movimentos engajados em ativismo ambiental, é preciso trazer ao debate a questão: diante das transformações climáticas, das agressões sistemáticas das quais o planeta padece, eles têm conseguido efetivo respaldo político? A ecologia política é capaz, afinal, de dar conta desse delicado desafio?
“Se a história é a história das condições do poder, então a história é a história dos usos e abusos da retórica que sustenta o poder. A luta política talvez seja exclusivamente retórica e com isso a força seria apenas um complemento posterior, pois toda demonstração de força valeria apenas por seu efeito retórico de aumento, manutenção ou perda de poder”. Ao formular nesses termos o problema da ordem (e da desordem) social, Ricardo Monteagudo nos faz entender que o tema da linguagem é, de fato, um lugar privilegiado para discutirmos a simbiose entre retórica e política na obra de J.-J. Rousseau. Tendo como pano de fundo um quadro histórico da retórica, dos autores da Antiguidade até Perelman e Todorov, a tese deste livro pode ser assim enunciada: no âmbito dos escritos políticos do filósofo genebrino, em particular no Discurso sobre a origem da desigualdade e no Contrato social, as condições de possibilidade das relações civis são estabelecidas, tanto para o bem quanto para o mal, pelo uso retórico da linguagem. Longe de se limitar a uma mera exegese acadêmica de textos datados, este trabalho se apresenta a nós, leitores do século XXI, como prova cabal de que certas investigações de Rousseau acerca do discurso político permanecem atualíssimas. Monteagudo se inscreve dessa maneira numa linhagem bibliográfica que, no Brasil, remonta às análises memoráveis de Bento Prado Jr. e Luiz Roberto Salinas Fortes sobre o assunto. THOMAZ KAWAUCHE
A filosofia Merleau-Ponty é uma reflexão sobre a experiência humana: o corpo e a percepção, a consciência e a subjetividade. Essa reflexão faz-se no horizonte da tradição cartesiana que formulou uma metafísica dualista da consciência enquanto puro Cogito. Rompendo com esse dualismo, Merleau-Ponty reúne o que a tradição cartesiana separou: mente e corpo, pensamento e percepção, consciência e mundo.