Percursos figurativos de José Saramago
O propósito deste ensaio é desenvolver uma leitura comparativa, por aproximação e contraste, de quatro romances de José Saramago. Recorte no amplo universo do romancista português, o trabalho levanta questões que possibilitam um ordenamento das leituras sobre sua obra a partir de um exame detido de um romance de sua fase mais nacional: A jangada de Pedra, em contraposição à trilogia constituída por Ensaio sobre a cegueira, Todos os nomes e A caverna.
A obra busca explicitar espelhamentos e refrações entre A Jangada de Pedra e Ensaio sobre a cegueira, bem como as muitas ressonâncias entre Ensaio sobre a cegueira, Todos os nomes e A caverna, e assim delinear um horizonte de convergências estruturais e/ou temáticas perceptível no confronto das obras.
Tal estratégia possibilita à autora depreender e apontar a marca narrativa que articula a variedade ficcional de cada romance, os quais agrega sob uma rubrica comum, mostrando que temas, figuras, mitos, símbolos, procedimentos narrativos e outros recursos que deles emergem configuram Saramago como romancista que “sendo a cada vez outro, é sempre o mesmo”.
Mestre e doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo, tem pós-doutorado em Teoria Literária pela Universidade de Coimbra. É professora de Literatura Portuguesa da Faculdade de Ciências e Letras – Unesp, câmpus de Assis. É autora de Entre a biblioteca e o bordel: a sátira narrativa de Hilário Tácito (2006).
Os ensaios presentes neste livro resgatam a memória de um dos mais importantes encontros literários da história do Brasil e propõem uma reflexão sobre a produção literária brasileira contemporânea e sobre a fortuna crítica e historiográfica que floresceu nesse período.
A autora de O horror econômico retoma aqui, de outros ângulos, mas no mesmo tom, a um só tempo inconformado e irônico, as questões abordadas naquele livro de enorme sucesso. A estranha ditadura a que se refere o título é a do lucro imposto pela economia ultraliberal atualmente dominante em todo o mundo, e que é na verdade uma pseudoeconomia baseada em produtos sem realidade, inventados em razão do jogo especulativo, ele mesmo separado de todo ativo real, de toda produção tangível. Trata-se de um "novo regime" que vem substituir pelo desemprego ou por pseudo-salários, que mal permitem viver, uma civilização que até aqui se fundava no emprego. Uma nova forma de totalitarismo envolta numa moldura democrática. Uma ditadura ultraliberal que prioriza o lucro em detrimento do conjunto da humanidade.
O tempo livre é visto hoje como elemento indispensável na busca de melhor qualidade de vida. Isso nos permite afirmar que as atividades que o preenchem e as formas de desfrutá-lo constituem via de acesso privilegiada para a compreensão e dinâmica cultural e dos valores sociais contemporâneos. Valendo-se dessa percepção, Magnani desenvolveu uma das primeiras pesquisas etnográficas realizadas no Brasil sobre as modalidades de entretenimento e suas relações com a rede de lazer.
Obra de rara oportunidade que propicia o conhecimento da realidade dos sem-terra para além da caricatura muitas vezes veiculada pela mídia. Podem ser acompanhadas as chegadas e partidas, venturas e desventuras, os sonhos feitos e desfeitos de personagens típicos desse universo, a partir de seus depoimentos, realizados em acampamentos, barracas de lona preta e assentamentos. Com o objetivo de discutir a questão da posse da terra no Brasil e as novas perspectivas políticas ligadas à questão agrária do país, a autora não perde de vista as raízes históricas do processo, seus matizes e a diversidade de tensões que o modulam.
Em costas negras traz uma grande contribuição para a historiografia brasileira. Resultado de uma pesquisa sobre o tráfico atlântico de escravos, este livro retoma a perspectiva econômica e social para entender os complexos processos históricos brasileiros e atlânticos. Utilizando-se de vasta fonte documental – como listagens dos navios negreiros, testamentos e registros eclesiásticos –, Manolo Florentino propõe uma instigante análise do tráfico de africanos para o Rio de Janeiro dos séculos XVIII e XIX, oferecendo novos elementos para compreender a migração compulsória que, por mais de três séculos, representou uma das bases da formação histórica brasileira.