Em Diálogos apócrifos, estão reunidos textos selecionados da produção da autora, Maria do Rosário Longo Mortatti, durante sua atuação profissional: entre 1976 e 1991, como professora de língua portuguesa e literatura na rede pública oficial de ensino paulista e em escolas particulares da cidade de Campinas/SP; e, a partir de 1991, como docente universitária vinculada à Unesp (Universidade Estadual Paulista). São textos de palestras, entrevistas, notas e artigos de opinião ou divulgação científica, escritos entre 1986 e 2014, que permaneceram inéditos ou foram publicados em veículos de circulação restrita ou atualmente fora de circulação. Todos estão relacionados com a temática “educação e ensino de língua e literatura”, na qual estão circunscritos os temas de estudos e pesquisas que a autora veio desenvolvendo ao longo das últimas quatro décadas.
Os textos estão organizados em ordem cronológica de sua produção e circulação, propiciando maior visibilidade da perspectiva interdisciplinar, no que se refere à relação tanto dos temas entre si quanto com as demandas que motivaram sua abordagem, em cada momento histórico. Essa ordenação cronológica propicia ainda que o leitor relacione informações e opiniões sobre os assuntos abordados com o momento histórico a que se referem, evitando, assim, anacronismos.
Professora titular na Universidade Estadual Paulista (Unesp). É licenciada em Letras pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Araraquara, mestre e doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e livre-docente em Metodologia da Alfabetização pela Unesp. Foi professora de língua e literatura na rede pública estadual paulista. Atua no curso de Pedagogia e no programa de pós-graduação em Educação da Unesp, câmpus de Marília. Coordena o grupo de pesquisa História da Educação e do Ensino de Língua e Literatura no Brasil. É presidente emérita da Associação Brasileira de Alfabetização. Em 2012, recebeu o Prêmio Jabuti na categoria Educação pelo livro “Alfabetização no Brasil: uma história de sua história” (Editora Unesp).
Em um percurso no qual se entrelaçam debates teóricos e metodológicos sobre alfabetização, Mortatti destaca o problema do método como objeto de estudo privilegiado da reflexão pedagógica no Brasil. Essa escolha serve de eixo a uma reconstrução da história da alfabetização, que vai do aparecimento da Cartilha maternal (1876) às pesquisas sobre psicogênese e ontogênese da língua efetuadas nos anos 1980.
Atualmente, há cerca de vinte milhões de analfabetos no Brasil, resultantes de um processo histórico longo, com lutas políticas e ideológicas mal resolvidas. Ao cidadão talvez pareça natural a ideia de que o Estado tem o dever de propiciar a todos os indivíduos, por meio da educação, o acesso à leitura e à escrita, como uma das principais formas de inclusão social, cultural e política e de construção da democracia. Nesta obra, a autora aborda conceitos como alfabetização e analfabeto, até sua gradativa substituição por expressões e noções como letramento e iletrado. Analisa a trajetória percorrida e o esgotamento de determinadas possibilidades teóricas e práticas no campo educacional evocando meios para sua superação, bem como para o resgate da dívida histórica com os excluídos da participação social, cultural e política no Brasil.
O conjunto de textos reunidos nesta obra possibilita a compreensão de como vem se desenvolvendo a história da alfabetização no Brasil e como se vem constituindo o campo correspondente de conhecimento. Essa história e esse campo de conhecimento, de acordo com os autores, estão centrados em um conceito brasileiro de alfabetização, entendido como processo de ensino e aprendizagem iniciais da leitura e da escrita, que envolve diferentes facetas.
Neste livro, estão reunidos textos de pesquisadores estrangeiros e brasileiros, que abordam a alfabetização como processo de ensino e aprendizagem iniciais da leitura e da escrita na Educação Básica e na Educação de Jovens e Adultos. Por meio do enfoque de diferentes pontos de vista, os autores apresentam importantes contribuições para compreensão de aspectos de pesquisas acadêmico-cientificas, práticas educacionais e políticas públicas, assim como para proposição de novas discussões e ações relativas à alfabetização.
Além da originalidade da abordagem do tema e das contribuições para a área da Educação, em especial para os campos da história da alfabetização e da história da educação, destaca-se a relevância deste livro para a compreensão desses processos históricos e sua relação com o presente. É um instigante convite a pesquisadores da história da alfabetização e áreas afins, professores e estudantes de graduação e pós-graduação, alfabetizadores e demais professores e gestores da educação básica para a reflexão sobre as práticas pedagógicas de leitura e escrita, visando a retomada de respostas e à formulação de outras perguntas e propostas para o enfrentamento dos persistentes problemas da alfabetização e da educação em nosso país.