Da Revolução à reforma
Sétimo volume da Coleção Revoluções do Século XX, dirigida pela profa. Emilia Viotti da Costa, A revolução salvadorenha foi escrito por Tommie Sue-Montgomery e Christine Wade, profas. dras. de História da Universidade Estadual da Geórgia (EUA). Menor país da América Latina, El Salvador viveu desde sua Independência sob várias oligarquias, às vezes aliadas ao Exército, que recorreram à violência para ocupar as terras comunitárias a fim de promover a cultura de exportação do café. Políticas reformistas tentaram, por vezes, conter os movimentos oposicionistas. Após o fraudulento pleito de 1977, sindicatos, organizações populares, Comunidades Eclesiais de Base e partidos políticos de oposição aglutinam-se na Frente Farabundo Marti para a Libertação Nacional (FMLN) e combateram por mais de uma década o governo apoiado pelos Estados Unidos. Depois da morte de 75 mil salvadorenhos e da migração de 20% da população nativa, uma "revolução negociada" pôs fim ao regime autoritário e "conduziu o país a uma democraria pacífica, que realizou eleições livres e justas pela primeira vez em 1992".
Autor deste livro.
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A Coreia do Norte é comumente retratada no Ocidente de forma caricatural. Difunde-se a imagem de um regime fechado, à beira do colapso, irracional, que oprime um povo faminto enquanto investe fortunas em um projeto nuclear megalomaníaco. Perdem-se, nessas representações caricatas e eivadas de objetivos políticos, tanto o contato com a real configuração do regime norte-coreano, de impressionantes conquistas socioeconômicas, quanto as complexidades que caracterizaram todo o processo revolucionário e continuam a tensionar o sudeste asiático.
Em uma região conturbasda desde tempos imemoriais, o Irã da segunda metade do século XX honra a tradição e abriga situação explosiva: uma monarquia, autointitulada herdeira dos vetustos imperadores persas, debate-se, espremida entre a autocracia, a corrupção e os anseios modernizadores. Completando o quadro dramático, a presença crescente do fundamentalismo islâmico e a não disfarçada intervenção das potências ocidentais – sempre obcecadas pelas enormes reservas petrolíferas do país – acarretam a tensão geopolítica prenunciadora de típicos cenários contemporâneos. A "revolução dos aiatolás" é, assim, exemplar. Mais do que conflito localizado, é fruto das variáveis definidoras de nossa época e expõe os perigos e os desafios que enfrentamos.
As peculiaridades da Revolução Boliviana são marcantes e refletem as características específicas – étnicas, econômicas e políticas – que distinguiram a dinâmica do país desde os tempos da colonização espanhola. Seria por isso simplista inseri-la despreocupadamente na mesma classe de conflitos e movimentos sociais que agitaram as nações vizinhas durante o mesmo período. A compreensão das particularidades da insurreição de massas de 1952 na Bolívia não apenas permite fazer justiça a facetas importantes da história do subcontinente americano, mas fornece elementos cruciais para explicar a tensão endêmica que se arrasta até os dias de hoje e se reflete no critico panorama político e social enfrentado pelo governo de Evo Morales.
O ideal de uma república, "o verdadeiro Peru", fiel a valores igualitários desrespeitados desde a emancipação ante a Coroa espanhola, foi sistematicamente abraçado pelas correntes libertárias peruanas, de Mariátegui e González Prada à atuação do Sendero Luminoso; um país que reconhecesse não apenas a impressionante herança histórica e cultural dos incas, mas que se emancipasse do elitismo crioulo, responsável pela marginalização da esmagadora maioria da população, particularmente de seus segmentos rural e indígena. Praticamente sem hiatos, a luta pela concretização desse sonho atravessa a história peruana, da independência, em 1821, até nossos dias. A Revolução Peruana traça justamente essa trajetória, expondo o que há nela de peculiar e o que a aproxima das tensões e dos dramas presentes em todo o subcontinente.
Segundo as palavras de Salvador Allende: “milhões de pessoas no mundo querem o socialismo, mas não querem ter de enfrentar a tragédia da guerra civil para consegui-lo”. A resposta do próprio Allende e do povo chileno a esse anseio foi consubstanciada pela experiência democrática socialista inaugurada em 1971. Jornada ainda hoje paradigmática na evidenciação dos limites da democracia liberal, os três conturbados anos do governo liderado pela Unidade Popular, levaram à tragédia épica de setembro de 1973 e à subsequente violência e ao obscurantismo da ditadura militar. Esta jornada heroica, mas frustrada, alerta para as dificuldades e complexidades com que se defronta a concretização conjunta dos ideais clássicos da liberdade e da justiça social igualitária.