Concepções de justiça e resistência nas repúblicas do passado (1930-1960)
As narrativas reunidas neste volume resgatam a multiplicidade das muitas realidades que se espalham pelo espaço brasileiro, possibilitando ao leitor uma compreensão mais ampla do mundo cultural, político, econômico e social em que o camponês produz e se reproduz. Mergulhando nos diversos aspectos do mundo rural, seus autores oferecem o suporte necessário para o debate sobre o direito à terra no Brasil.
Márcia Maria Menendes Motta é professora do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense, coordenadora do Núcleo de Referência Agrária e pesquisadora da Companhia das Índias, ambos da UFF.
Paulo Afonso Zarth é professor do Departamento de Ciências Sociais e do PPG em Educação nas Ciências da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí. Professor do PPG em Historia da Universidade de Passo Fundo. Doutor em História pelo PPG da Universidade Federal Fluminense.
O objetivo dos autores é contribuir para a realização de um campo de conhecimento que se convencionou chamar de História Social do Campesinato. Os textos são o resultado de pesquisas produzidas em diversas universidades brasileiras de distintas regiões do país. Enfocam experiências de luta e a organização de movimentops rurais ocorridos em várias partes do Brasil . O conjunto de artigos tem como principal elemento norteador de reflexão, indagação e inquietude como os pobres do campo, nas mais diversas áreas da nação, procuraram assegurar seus direito à terra, consagrando como costume o direito expresso na primazia da ocupação ou na percepção da injustiça diante dos terratenentes.
Ampliando os horizontes possiveis para a análise, os artigos aqui reunidos recuperam e atualizam leituras de algumas das formas de resistência e de recriação do campesinato, de maio de 1978 até o começo do século XXI. Revelam a complexidade da questão agrária e mostram como os camponeses enfrentam processos expropriatórios, políticas de criminalização e estratégias de controle político.
Os artigos aqui reunidos formam um abrangente panorama das manifestações políticas do campesinato brasileiro, de 1945 até meados dos anos 1980. No entrecruzar de histórias específicas se vislumbra a dinâmica de uma memória que está por ser resgatada, reconstruída e explicitada nas suas múltiplas dimensões, apresentando o trabalhador do campo como sujeito importante dos debates sobre os destinos do país.
Em complementaridade às reflexões quanto aos processos de constituição e reprodução do campesinato no Brasil, apresentadas no volume I e incidentes sobre formas tuteladas, neste volume II analisamos formas dirigidas de constituição de segmentos camponeses, isto é, correspondentes a processos de criação de condições para a ocupação populacional do território brasileiro, para a expansão de fronteiras produtivas e para objetivações da presença institucional do Estado. Reafirmamos, assim, a diversidade de situações sociais e históricas em que se expressa a organização produtiva de famílias sob o reconhecimento de formas camponesas, analisando casos de imigração de europeus e de concorrência e reconhecimento social de trabalhadores nacionais, abarcando, para este último caso, não só colônias constituídas no bojo da Marcha para o Oeste, como também o consequente padrão de formação do patrimônio residencial e produtivo pela posse de lotes em terras devolutas ou, conforme representação dos posseiros, "sem dono".
Os autores deste volume demonstram a importância e a diversidade de condições de integração da força de trabalho, principalmente da constituição do campesinato. Mostram como a qualificação sociológica das formas de dominação, amparadas em mecanismos de repressão da força de trabalho pela gestão do acesso ao controle dos meios de produção, tornaram possivel a existência de formas camponesas dependentes ou tuteladas.