'A Aliança para o Progresso e o governo João Goulart' ganha nova tiragem

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terça-feira, 20 de abril de 2021

Documentos inéditos revelam a influência dos Estados Unidos para a instauração do regime militar no Brasil  

Durante anos, a ideia de que o golpe que instalou a ditadura militar no Brasil em 1964 teria tido influência decisiva dos Estados Unidos foi vista como mera especulação de comunistas ou integrantes da esquerda. Com o tempo, estudiosos mostraram que esse vínculo de fato existiu, mas ainda faltavam peças para desvendar partes desse quebra-cabeça. Em A Aliança para o Progresso e o governo João Goulart (1961-1964): Ajuda econômica norte-americana a estados brasileiros e a desestabilização da democracia no Brasil pós-guerra, que ganhou nova tiragem, Unesp, Felipe Pereira Loureiro apresenta um acurado e inédito mapeamento do apoio econômico dos Estados Unidos a estados da federação brasileira via Aliança para o Progresso, que visou constranger e desestabilizar a administração João Goulart, tendo sido fundamental para sua queda.

A interpretação do vínculo dos Estados Unidos com o golpe civil-militar de março de 1964 no Brasil demorou para ser desvendada. Foram necessários dez anos para que a historiadora norte-americana Phyllis Parker tivesse acesso a fontes confidenciais que comprovassem a existência de uma operação militar clandestina em apoio aos golpistas brasileiros – a chamada Operação Brother Sam, que contou com o apoio inclusive do embaixador americano no Brasil à época do golpe, Lincoln Gordon.

"Desde que veio a público a chamada Operação Brother Sam, plano sigiloso conduzido pela administração Lyndon B. Johnson para dar respaldo militar aos golpistas destes trópicos, não foi mais possível disfarçar as relações políticas entre Washington e Brasília", afirma o historiador. Mas o apoio de Washington, via Aliança para o Progresso, a governadores que participaram do golpe de 1964 ainda era objeto de muitas dúvidas. A Aliança para o Progresso foi um programa econômico formulado pelo governo John F. Kennedy em 1961 orientado a ajudar, com atraentes divisas - US$ 20 bilhões em dez anos -, nações da América Latina que se inclinassem a um capitalismo democrático, evitando o surgimento de novas “Cubas”.   

Loureiro mostra como esse auxílio favoreceu governantes anticomunistas e anti-Goulart, como o governador do antigo estado da Guanabara, Carlos Lacerda, e Magalhães Pinto, de Minas Gerais. “A racionalização do processo de tomada de decisão foi tamanha que a Embaixada norte-americana no Rio de Janeiro chegou a construir um ‘índice ideológico’ – desconhecido por estudiosos até então – para categorizar políticos brasileiros, notadamente governadores, em diferentes graus de posicionamento político, indo dos mais indesejáveis a Washington (“comunistas”) aos mais desejáveis (“reformistas não comunistas” e “centristas”)”, explica o autor.

Se, por muitas décadas, autoridades norte-americanas se esforçaram para assegurar que a alocação de recursos da Aliança para o Progresso teria observado critérios estritamente técnicos, nada tendo a ver com o golpe de 1964, a obra de Felipe Loureiro mostra, a partir de sólida e ampla fundamentação empírica, que o discurso oficial daquele país nunca significou a realidade dos fatos.

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp
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