Bruno Latour mergulha na ‘caixa de Pandora’ dos fatos científicos

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segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Antropólogo, sociólogo e filósofo da ciência francês defende ultrapassar os limites impostos pelo debate e buscar a ‘esperança cognitiva’ no fundo da caixa 

Quando um colega perguntou a Bruno Latour se ele acreditava na realidade, sem pestanejar respondeu que sim. Porém,como é próprio da mente dos filósofos, a reflexão deu origem a certa inquietação com a resposta. E, em busca de satisfazer melhor essa pergunta, nasceu o livro A esperança de Pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos, lançamento da Editora Unesp. 

O que interessa, para Latour, é entender o posicionamento dos cientistas frente à realidade dos estudos científicos. Identificou duas culturas opostas. De um lado, os empiristas, que buscam o distanciamento absoluto, como se fosse possível extirpar o cérebro do corpo. De outro, a fenomenologia que trata apenas do mundo para uma consciência humana, ficando eternamente presa ao ponto de vista dos homens. Um considera as ciências acuradas somente depois que se livram de todas as contaminações da subjetividade, política ou paixão. O outro só dá valor à humanidade, moralidade, subjetividade ou direitos se estes foram protegidos de quaisquer contatos com a ciência, a tecnologia e a objetividade.

“Ao abrir a caixa-preta dos fatos científicos, não ignorávamos que abríamos a caixa de Pandora. Era impossível evitá-lo”, escreve. “Ela esteve hermeticamente fechada enquanto permaneceu na terra de ninguém das duas culturas, oculta no meio das couves e nabos, placidamente ignorada pelos humanistas, que tentam combater os perigos da objetificação, e pelos epistemólogos, que procuram anular os males trazidos pela massa rebelde.”

 Agora, diz o autor, a caixa foi aberta e espalhou “pragas e maldições, pecados e doenças”. Diante desse contexto, ele propõe apenas um caminho: “mergulhar na caixa quase vazia para resgatar aquilo que, segundo a lenda venerável, ficou lá no fundo – sim, a esperança. A profundidade é demasiada para mim; não gostaria de me ajudar na tarefa? Não me daria uma mãozinha?”, convida.

Com nove capítulos e uma parte final à guisa de conclusão, Latour caminha por estudos de caso (desde cientistas estudando o solo amazônico a Pasteur e a fermentação do ácido láctico no laboratório, por exemplo) em busca dos componentes aparentes e ocultos das atividades e dos pensamentos dos cientistas. “As próprias disciplinas, os fatos e artefatos com suas bonitas raízes, suas delicadas articulações, suas inúmeras gavinhas e suas frágeis redes ainda estão, na maior parte, à espera de investigação e descrição”, sugere. 

Sobre o autor – Bruno Latour é diretor-adjunto e diretor científico da Sciences-Po, em Paris, onde desenvolveu o programa de Experimentação em Artes e Política (SPEAP, na sigla em francês). De sua obra, a Editora Unesp publicou Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora (2ª edição, 2011).  

Título: A esperança de Pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos
Autor: Bruno Latour
Tradução: Gilson César Cardoso de Sousa
Número de páginas: 385
Formato: 14 x 21 cm
Preço: R$ 58,00
ISBN: 978-85-393-0683-1

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp