Além de procurar mitigar impasses do debate e da própria concepção fenomenológica, pesquisador facilita a compreensão do trajeto filosófico de Edmund Husserl no enfrentamento desses tópicos
“Qual pode ser o significado dessa ciência ‘absolutamente subjetiva’, que nunca vai dirigir-se à ‘realidade efetiva’ e – cúmulo dos paradoxos – se apresenta como uma ‘teoria do conhecimento’ no mesmo instante em que se recusa a falar do conhecimento do mesmo mundo ao qual as ciências se dirigem?” Com essa pergunta em mente, nasce Crítica da razão na fenomenologia, em que Carlos Alberto Ribeiro de Moura analisa a trajetória da teorização fenomenológica de Edmund Husserl, cujo projeto filosófico ensejou sempre discordâncias entre os comentadores de gerações posteriores.
“Este trabalho pretende ser apenas uma explicitação do sentido do projeto husserliano”, anota Moura. “Essa primeira limitação não é, contudo, inteiramente fortuita. Por um lado, houve a intenção de retomar o significado desse projeto para aquém da poeira lançada pelas ‘fenomenologias’ posteriores, que nunca deixaram de influir tacitamente em sua compreensão. Mas essa motivação, todavia, ainda é extrínseca e representa apenas uma escolha. Existe outra, mais propriamente interna, resultante da conjunção entre a fenomenologia e as tarefas da história da filosofia.”
A obra divide-se em duas partes: a primeira aborda a crítica da razão na atitude natural e a segunda, a crítica da razão na atitude transcendental. Dessa forma, o autor regula suas lentes para tentar mitigar impasses e imprecisões frequentes no debate sobre as questões que estão na própria concepção da fenomenologia e para entender o trajeto filosófico de Husserl no enfrentamento desses tópicos, garantindo lugar incontornável na exegese husserliana brasileira desde sua primeira publicação, em 1989. Entram em debate aqui os primeiros estudos fenomenológicos de Edmund Husserl, Investigações lógicas e Ideias I, e é retraçado o cenário do nascimento de sua fenomenologia, em um momento no qual o discurso filosófico está em ruptura com o discurso matemático e das ciências duras, ao mesmo tempo que são descritos pontos nevrálgicos do pensamento husserliano – suas linhas mestras, suas dificuldades, os ajustes que Husserl fez com o passar do tempo em sua própria teoria – bem como as cisões interpretativas que ele ensejou.
“Pretendeu-se concentrar a atenção, antes de tudo, nesses momentos em que a fenomenologia se prepara, nasce como exigência e delineia, por assim dizer, a sua ideia; o que exige, inevitavelmente, um inventário das dificuldades que estão na origem de suas transformações”, observa. “O resultado será um círculo traçado sobre papel, sem ter contudo o seu interior preenchido.”
Sobre o autor - Carlos Alberto Ribeiro de Moura é professor titular de História da Filosofia Contemporânea no Departamento de Filosofia da FFLCH – USP. Foi professor da Unicamp e professor-convidado da Université de Provence, Aix-en-Provence, França. Membro do conselho editorial de diversas revistas acadêmicas de prestígio, foi um dos fundadores da Manuscrito – Revista Internacional de Filosofia (Unicamp). Suas pesquisas e publicações se concentram nas áreas de História da Filosofia Contemporânea, com especial ênfase na tradição fenomenológica, e de História da Filosofia Moderna, em torno do empirismo e do racionalismo clássicos.
Título: Crítica da razão na fenomenologia
Autor: Carlos Alberto Ribeiro de Moura
Número de páginas: 317
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 69
ISBN: 978-65-5711-097-3