Pensador inglês expõe uma das mais ricas e importantes controvérsias da nascente modernidade no século XVII
Se os homens são, no que diz respeito às suas ações, tão determinados quanto o restante dos animais e dos corpos em geral, se não possuem uma faculdade racional pela qual podem se autodeterminar, como assegurar a possibilidade da moralidade e da justiça? Como se poderia imputar um crime a alguém e puni-lo se a ação era necessária? A partir dessas objeções formuladas pelo bispo John Bramhall, desenvolve-se um interessantíssimo embate de posições com o pensador inglês Thomas Hobbes sobre o fundamento da moral e do poder político, a natureza do bem e do mal, do pecado, da punição e da justiça, tanto humana como divina, da lei natural e sua relação com a lei positiva. Os leitores brasileiros podem agora conferir Questões sobre a liberdade, a necessidade e o acaso, clássico de Thomas Hobbes que chega em língua portuguesa pela Editora Unesp.
“No seu ensaio sobre John Bramhall, T. S. Eliot refere-se à querela do clérigo com Thomas Hobbes como uma controvérsia entre duas personalidades fortes e opostas, algo indicativo da situação da filosofia e da teologia da época, e que jamais recebeu a atenção que merecia”, anota, na apresentação, a tradutora Celi Hirata, professora de Filosofia Moderna na Universidade Federal de São Carlos. “Versando sobre a questão clássica da liberdade e da necessidade, além de outros temas essenciais da filosofia, este debate é um precioso documento histórico do confronto entre um religioso, adepto da tradição escolástica, e um filósofo, partidário da ciência moderna nascente. Poucos textos apresentam de maneira tão direta e desenvolvida esse embate que, diferentemente dos famosos diálogos de Giordano Bruno e de Galileu Galilei, envolve dois debatedores reais.”
Como na edição de Bramhall, a obra está organizada em 38 debates numerados, nos quais há: 1) a exposição do texto de Bramhall de 1645; 2) a resposta de Hobbes apresentada em Of Liberty and Necessity; 3) a réplica de Bramhall de 1655; e, por fim, 4) a tréplica de Hobbes com a crítica das posições defendidas por Bramhall, que é a parte propriamente nova da contenda e a mais extensa do texto. Em alguns números (2, 3, 8, 25-38), o texto se inicia com a posição de Hobbes de 1645, pois foi assim que Bramhall retomara a controvérsia em sua Defense.
“Mordaz, como bem nota Leibniz em seu comentário, a querela sobre a liberdade e a necessidade entre Hobbes e Bramhall tem múltiplos horizontes e desdobramentos”, analisa Hirata. “Trata-se de um debate filosófico que adentra questões lógicas, epistemológicas, físicas, morais e teológicas, opondo uma visão predominantemente escolástica sobre a liberdade, a necessidade, a contingência, os atributos divinos, a deliberação, as paixões e as virtudes, o bem e o mal, o pecado, a lei, a justiça e a punição, e uma concepção materialista e mecanicista desses e de outros temas.”
Ademais, como explica a tradutora, Questões sobre a liberdade, a necessidade e o acaso estabelece uma polêmica de teor eclesiástico e político que “tem como pano de fundo a questão da graça e da predestinação, além de outros problemas clericais, como a relação entre o poder temporal e o espiritual, e o fundamento do direito dos bispos, e seus intrincados desdobramentos na turbulenta época da guerra civil inglesa.” O determinismo hobbesiano, com longa e robusta influência na história posterior da filosofia, tem aqui sua exposição mais completa.
Sobre o autor – O filósofo inglês Thomas Hobbes (1588- 1679) é presença incontornável no debate filosófico mundial desde o século XVII, quando traz à luz suas concepções de homem e de sociedade em obras lapidares como Leviatã (1651) e Do cidadão (1642).
Título: Questões sobre a liberdade, a necessidade e o acaso
Autor: Thomas Hobbes
Tradução: Celi Hirata
Número de páginas: 511
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 94
ISBN: 978-65-5711-092-8