Pensador adotou o Brasil como lar durante várias décadas e conjugou à sua atividade como docente na Universidade de São Paulo a colaboração assídua em importantes jornais diários da capital paulista
O filósofo francês Gérard Lebrun costumava afirmar que São Paulo era seu “lugar natural”. Durante mais de 35 anos, entre 1960 e 1995, Lebrun foi uma figura fundamental na Universidade de São Paulo e na vida intelectual do Brasil. A partir de 1977, ele contribuiu regularmente para os jornais paulistanos, produzindo uma ampla coleção de artigos que demonstram seu papel preponderante na intelectualidade brasileira e francesa do século 20. Agora, o público tem à disposição uma coletânea dessa vasta produção em A vingança do bom selvagem e outros ensaios, lançamento da Editora Unesp. O livro foi organizado pelos pesquisadores Ruth Lanna e Pedro Paulo Pimenta com tradução do professor Renato Janine Ribeiro.
Professor excepcional, deixou fortes lembranças em seus alunos de suas aulas mais do que cativantes. Mas legou mais que isso. “Os textos reunidos neste volume foram escritos, na sua maioria, entre 1983 e 1989. Não são o registro de aulas, mas intervenções escritas especialmente para a imprensa brasileira. Dialogam e se somam aos já publicados no livro Passeios ao léu (Editora Brasiliense, 1983). Lebrun, que, em suas palavras, teve um dia “a audácia de [se] improvisar jornalista”, foi, durante duas décadas, uma referência inescapável do jornalismo cultural brasileiro”, anota, nas orelhas, a pesquisadora Ruth Lanna. “Parece ter encontrado assim um espaço para compartilhar o engenho e a sensibilidade do notável filósofo que era. Não se pretendia neutro, mas não recuava diante da polêmica; os argumentos, esgrimidos com habilidade, evocam a história da filosofia e vinculam o tempo presente à reflexão vinculam o tempo presente à reflexão conceitual. Nas páginas dos jornais como na sala de aula, Lebrun nunca optou pela via fácil, que consiste em baratear a filosofia para supostamente torná-la ‘acessível’. Ao contrário, o acesso à filosofia era, para ele, parte integrante do próprio filosofar, exercício vigoroso, às vezes árduo, cujos segredos ele vinha revelar.”
Seus artigos transitam por temas os mais diversos: da análise conceitual à polêmica ideológica, passando por resenhas que valorizavam livros que estavam entre o que de melhor se produzia à época – em termos de filosofia, mas também de outras disciplinas. “Lebrun fazia parte de um grupo amplo de intelectuais que alguns jornais adotaram como colaboradores regulares em seus suplementos de cultura”, pontua Pedro Paulo Pimenta na apresentação. “Publicados nos fins de semana, esses cadernos traziam textos caudalosos que não temiam ofender o leitor com a sua profundidade – respeitavam a sua inteligência. Eram espaços muito diferentes das magras páginas hoje reservadas à ‘polêmica’ – isso no melhor dos casos.”
Certo é que, lidos a distância, em 2024, os ensaios de Lebrun certamente refletem a época em que foram escritos. No entanto, o padrão de excelência estabelecido por eles continua sendo um exemplo válido do que a filosofia pode alcançar em termos de intervenção pública quando praticada com paixão. Além disso, esses textos dão uma ideia do prazer que eram suas aulas e da promessa de emancipação que traziam para seus entusiasmados ouvintes.
Sobre o autor – Gérard Lebrun (Paris, 1930-1999) foi um filosofo francês que exerceu grande influência sobre a filosofia brasileira. Entre 1960 e meados da década de 1990, morou entre o Brasil e a França – período em que lecionava um semestre na USP e outro em Aix-en-Provence, nos arredores de Paris. De sua autoria, a Editora Unesp publicou A paciência do conceito (2006).
Título: A vingança do bom selvagem e outros ensaios
Autor: Gérard Lebrun
Organização: Ruth Lanna, Pedro Paulo Pimenta
Tradução: Renato Janine Ribeiro
Número de páginas: 333
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 69
ISBN: 978-65-5711-249-6
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