Engrossando as fileiras dos que se dedicam ao estudo da poesia e dos que ousam levá-la a cabo, autor faz um voo panorâmico sobre pontos importantes da poética nacional
Muitos consideram que o interesse geral por poesia vem diminuindo nas últimas décadas. Na verdade, desde o século XVIII, em paralelo ao crescimento do fascínio do público pela prosa romanesca, o espaço ocupado pela poesia nas prateleiras dos leitores foi ficando mais restrito. E, ao ajustarmos as lentes para o cenário literário brasileiro, tal tendência se acentua a partir do século XIX, talvez em função da necessidade da monarquia então estabelecida de convocar os letrados que formavam a intelectualidade no país para a justificação da autonomia política. É esse o pressuposto de que parte Luiz Costa Lima, referência brasileira em estudos literários, na elaboração de A ousadia do poema: ensaios sobre a poesia moderna e contemporânea brasileira, lançamento da Editora Unesp, que parte da investigação contextual para se aprofundar em estudos de caso que iluminam para o leitor alguns caminhos da poética brasileira.
O livro se divide em duas grandes partes: “A poesia consolidada” e “Alguns contemporâneos”. Da fina seleção contemplada na primeira, entram Bandeira – com quem Costa Lima faz uma espécie de acerto de contas, por não o haver incluído em obra anterior, Lira e antilira (1968) –, Drummond, Sebastião Uchoa Leite e João Cabral de Melo Neto. Em relação a João Cabral, passando longe de abordagens tradicionais ou óbvias, o autor se debruça sobre opções estéticas e elementos de modernidade na produção do autor de Morte e vida severina, contrastando-a com a produção de nomes como T.S. Eliot, Stéphane Mallarmé e Joseph Frank. Na chave contemporânea, o autor se debruça sobre nomes da produção recente da poesia brasileira, sendo alguns deles autores em franca produção.
“É cabível o exame da questão da literatura nacional, por certo não para negá-la ou para negar a função da história, mas para penetrar propriamente em seu objeto. Não o fazer supõe que o conceito de nacional não tem limites. Se assim for, por que ninguém cogita da nacionalidade do saber científico? A extensão da expressão de nacionalidade à literatura e à cultura em geral era inevitável no contexto do século XIX”, provoca Costa Lima.
“Além de o código manter-se comum até meados do século, defendia-se com ela a independência de áreas que, na própria Europa, se mantiveram colonizadas ou subalternas. Nos dias que correm, fazê-lo significa reduzir a literatura à documentação do cotidiano, à questão dos gêneros ou da identificação sexual. Se tal redução não é menos absurda por ser muito praticada, como superá-la sem a reflexão teórica e a retirada dos entraves que a separam da indagação filosófica ou antropológica? E como estabelecê-la mantendo-se entre parênteses o entendimento do ficcional?” É o que pretende investigar esta obra.
Sobre o autor - Luiz Costa Lima é crítico literário e professor emérito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Publicou importantes livros de ensaios, entre eles Mímesis e a modernidade (1980), Vida e mímesis (2000), O controle do imaginário e a afirmação do romance (2009) e Frestas: a teorização em um país periférico (2013). Pela Editora Unesp, publicou, em 2017, Melancolia: literatura e, em 2021, O chão da mente: A pergunta pela ficção.
Título: A ousadia do poema: ensaios sobre a poesia moderna e contemporânea brasileira
Autor: Luiz Costa Lima
Número de páginas: 400
Formato: 13,5 x 21 cm
Preço: R$ 82
ISBN: 978-65-5711-124-6