O Dao De Jing (ou Tao Te Ching), coletânea de provérbios chineses, é a raiz de tradições religiosas e filosóficas milenares como o Taoísmo e o Zen. Nos últimos séculos, após inúmeras traduções, despertou o interesse do público ocidental. A obra, com tradução inédita, lançada em 2016, acaba de ganhar nova impressão.
Laozi, o possível autor do Dao De Jing, é um dos três principais entre os primeiros pensadores chineses. Ele, ao lado de Confúcio e Mozi, criou as visões de mundo e atitudes que influenciarem a cultura chinesa por milênios. Há relatos de que teria sido mestre de Confúcio, mas enquanto o primeiro se tornou o paradigma do homem de ação, o tradicionalista apegado aos ritos, o segundo simboliza o homem contemplativo, o quietista voltado para os arcanos da natureza.
Nesta edição, seu texto de apenas 5 mil palavras (caracteres) é acompanhado dos comentários de Heshang Gong, o Senhor às Margens do Rio, personagem dono de uma biografia tão mistificada quanto à do próprio Laozi. Trata-se de uma versão integral de um dos três textos-base para a interpretação do Dao De Jing. Foram também traduzidos os trechos mais relevantes do prefácio de Ge Xuan (164 –244) e breves notas biográficas escritas por Sima Qian (145 a.C. – 90 ou 85 a.C.), o primeiro grande historiador chinês.
Já a apresentação do sinólogo e diplomata brasileiro, Giorgio Sinedino, intitulada “Laozi e a história das ideias na China”, introduz ao leitor o Dao De Jing, e o guia pelo labirinto de crenças, práticas e instituições ligadas a este fenômeno complexo ao longo da antiga história daquele país. O resultado é uma versão crítica que, em seu conjunto, como escreve Sinedino, pode “revelar verdades pelo menos tão sólidas quanto a opinião dos mercados, as efemérides da imprensa ou os axiomas do direito e da economia”.
Se para o leitor ocidental, o pensamento chinês antigo parece intrinsecamente autoritário, elitista e xenófobo, o Dao De Jing mostra que esta é uma verdade parcial. Acaba-se por descobrir que “o pensamento chinês está orientado a criar um tipo de ecumenismo de natureza não muito diferente do Ocidente globalizado – sem pluralismo, contudo”.