Obra examina o papel desempenhado pelos Estados Unidos em relação aos artistas brasileiros
durante parte da Guerra Fria
Durante a Guerra Fria, dispositivos de sedução e de atração se tornaram frequentes nas relações internacionais caracterizadas por disputas entre modelos políticos e econômicos. Dentro dessa perspectiva, as políticas de atração se conectam a esse ambiente por se referir a um conjunto de estratagemas colocados em prática por setores do governo estadunidense no ambiente artístico e cultural brasileiro nas décadas de 1960 e 1970. Os propósitos eram explícitos: reverter – dentro da América Latina e não apenas do Brasil – a imagem negativa dos Estados Unidos e tornar o país referência hegemônica no campo artístico, sobretudo após a Revolução Cubana, em 1959. E é sobre isso que Dária Jaremtchuk se debruça no livro Políticas de atração, lançamento da Editora Unesp. Com base em pesquisas e reflexões originais, ela amplia e aprofunda nosso entendimento sobre a intricada relação artístico-cultural entre EUA e Brasil entre as décadas de 1960 e 1970.
“O tema das relações culturais entre Brasil e Estado Unidos é complexo e polissêmico”, anota a autora. “Ainda que muitas análises tenham sido realizadas, as questões estão longe de ter sido esgotadas. Aqui se exploram facetas pouco discutidas sobre as naturezas das iniciativas dos Estados Unidos dirigidas ao meio artístico brasileiro nas décadas de 1960 e 1970. Partiu-se do princípio, confirmado ao longo da pesquisa, que havia uma distância entre a realidade, os silêncios tácitos e os objetivos camuflados.”
Dária Jaremtchuk registra que, durante o decorrer da pesquisa, surgiram questionamentos sobre a influência de fatores externos ao campo das artes: quais iniciativas foram tomadas e com quais intenções? Como identificar e avaliar suas consequências? Intercâmbios e exposições itinerantes no mundo artístico foram empregados como ferramentas em disputas políticas e ideológicas? Como responderam os artistas, críticos e diretores de instituições diante de tais influências? Quais são os impactos das estratégias de "atração" na produção artística? Ao longo do livro, ela busca oferecer respostas a estas e outras perguntas.
“Desde que os Estados Unidos substituíram a Grã-Bretanha como principal força estrangeira no Brasil no início do século XX, uma relação complexa se desenvolveu entre os dois países: de um lado, o fascínio por filmes de Hollywood e por outros aspectos da cultura de consumo dos Estados Unidos e, por outro lado, a rejeição da crescente influência norte-americana nas esferas econômica e política brasileiras marcaram esse período. Uma das preocupações dos intelectuais de esquerda no Brasil foi tentar entender como se relacionar com o gigante do Norte”, anota, no prefácio, James Green. Isso fica mais patente no período da Guerra Fria, a partir dos anos 1960. “Esse processo sobre a complexa relação entre o governo dos Estados Unidos e os artistas brasileiros naquele período de alta tensão é o cerne deste estudo de Dária Jaremtchuk.”
Silvano Santiago completa: “O foco de Dária tinha de ser e é inesperado. E continua atual e correto. Visa à análise da produção de artistas premiados e bolsistas e do funcionamento e da atuação de órgãos governamentais, instituições culturais e museus”, escreve, nas orelhas. “A arte brasileira perde o norte europeu e se deixa magnetizar pelo norte americano. Apesar de supervisionados, os artistas brasileiros têm boa performance no exílio financiado, ou voluntário. Seus trabalhos originais e autênticos hoje são parte integrante da arte nacional. O popular vira pop. Avanços, desesperanças e rebeldias inimaginados. Dária lhes informa com pesquisa em arquivos e argúcia crítica.”
Sobre a autora
Dária Jaremtchuk é professora livre-docente pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP), onde ensina História das Artes. Foi pesquisadora visitante na Brown University (2011-2012) e na Georgetown University (2017-2018) com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Em 2016, participou do Programa Ano Sabático do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP com a pesquisa sobre o trânsito de artistas brasileiros para os Estados Unidos. Foi professora visitante na Emory University (2019), por ter sido selecionada pelo Programa Fulbright para a Cátedra de Estudos Brasileiros. Publicou o livro Anna Bella Geiger: passagens conceituais (2007) e diversos artigos sobre “exílios artísticos” nas décadas de 1960 e 1970.
Título: Políticas de atração: relações artístico-culturais entre Estados Unidos e Brasil (1960-1970)
Autora: Dária Jaremtchuk
Número de páginas: 296
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ 108
ISBN: 978-65-5711-205-2
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