Entrevista em profundidade mostra os vínculos que unem sua visão de mundo a suas concepções estéticas, passando pela antropologia, pela ética e pela política
Manter-se fiel à singularidade e à riqueza da experiência humana, introduzindo nela o máximo de razão possível: essa é uma tarefa primordial da filosofia. A cada livro, por quase trinta anos, Francis Wolff se empenhou em desenvolver uma filosofia no sentido clássico do termo, não se limitando a uma exegese dos clássicos, tampouco demolindo sistemas. Esteve dedicado a empreender uma filosofia que apresentasse uma metafísica, uma teoria do conhecimento, uma definição do ser humano – e todas as suas consequências morais, políticas e estéticas. E é este homem e sua obra que passamos a conhecer em O mundo em primeira pessoa: entrevistas com André Comte-Sponville, lançado pela Editora Unesp.
“Disse muitas vezes, especialmente aos jornalistas que me perguntavam, que considero Francis Wolff o maior filósofo francês vivo”, escreve André Comte-Sponville no prefácio. “Isso não significa que suas ideias tenham se tornado as minhas – admiração, em filosofia, não é o mesmo que aprovação –, mas não conheço, em nossa época e em nosso país, um filósofo cujo pensamento seja mais sólido, mais científico e mais rigoroso do que o seu. Talvez isso cause surpresa, pois ele é pouco conhecido do grande público. Esse descompasso entre a importância de sua obra (largamente reconhecida pelos especialistas) e sua notoriedade (que não vai muito além dos limites da Universidade) é a razão deste livro e o suficiente para justificá-lo.”
Dividido em dez capítulos – cada um correspondente a uma entrevista –, o livro traz um diálogo emocionante, amigável e sincero que convida a explorar a obra de Wolff e seus temas de predileção. Aos leitores, são mostrados os vínculos que unem sua visão de mundo a suas concepções estéticas (a universalidade da música, das imagens e das histórias), passando pela antropologia (o homem, “animal dialógico”), pela ética (a existência da liberdade e a objetividade do bem) e pela política (da democracia ao cosmopolitismo).
O formato de entrevista confere ao discurso filosófico uma naturalidade e uma vivacidade não permitidas em sua apresentação acadêmica. Isso, reforçado pela cumplicidade entre os dois amigos, oferece a oportunidade para que Wolff conte sua história familiar perpassada por medos, exílios, desaparecimentos, num itinerário que atravessou uma das grandes tragédias do século passado – o Holocausto – e mostre como alguém pode se tornar filósofo quando nada no ambiente parental e social predispõe a isso. Tomamos conhecimento dos autores e mestres que o acompanharam nessa jornada intelectual, e temos o privilégio de espiar a “oficina” do filósofo, entrevendo a arquitetura de uma obra pacientemente desenvolvida por seu autor. “[O final] também é ocasião para uma espécie de balanço, provisório ao menos, sobre uma obra sempre em desenvolvimento”, registra Comte-Sponville. “Possam os leitores sentir tanto prazer em descobri-la nas próximas páginas quanto eu senti ao revisitar, graças a Francis, as suas diferentes etapas!”
Sobre o autor – Francis Wolff nasceu em Ivry-sur-Seine, na França, em 1950. É filósofo e professor emérito da École Normale Supérieure de Paris. De 1980 a 1984, lecionou Filosofia Antiga na Universidade de São Paulo. Pela Editora Unesp, publicou Nossa humanidade (2013), Três utopias contemporâneas (2018), Pensar com os antigos e Em defesa do universal (ambos em 2021).
Título: O mundo em primeira pessoa: entrevistas com André Comte-Sponville
Autor: Francis Wolff
Tradução: Mariana Echalar
Número de páginas: 398
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 98
ISBN: 978-65-5711-130-7
Para não perder nenhuma novidade, siga a Editora Unesp no Facebook e no Instagram e inscreva-se em seu canal no YouTube.