Breno Fonseca Rodrigues, leitor de Belo Horizonte (MG)
A assimetria e a vida, livro cuidadosamente editado pela Editora Unesp, reúne artigos e ensaios de Primo Levi, organizado pelo crítico Marco Belpoliti. A edição lança, ineditamente, no Brasil, o trabalho ensaístico do escritor, químico por formação e sobrevivente de Auschwitz. O livro configura-se como uma rica coletânea reveladora de novos aspectos da personalidade do escritor, conhecido, principalmente, por suas obras testemunhais, em que relata os horrores da Shoá. Se, para Philip Roth, ao falar de Levi, “o sobrevivente e o cientista é a mesma pessoa”, em A assimetria e a vida isso se confirma.
Os ensaios se concentram na temática da guerra e dos campos de concentração, e se estende às incursões do autor nas profissões alheias. Para Belpoliti, em todos os textos de Levi, pode-se perceber um olhar analítico, quase científico, que procura compreender aquilo que está além da razão humana. No ensaio “A assimetria e a vida”, que confere o título à antologia, publicado originalmente em 1984, o químico-escritor trata da “quiralidade” do universo, das simetrias não simétricas presentes nas formas mais incipientes de vida. Belpoliti observa que esse tema tocou o escritor de maneira profunda após ter vivido a experiência assimétrica de Auschwitz.
O assunto de teor enigmático é discorrido pelo autor com destreza. Tal qual um detetive da matéria, ele sonda seu objeto com profundidade. Agradeço a editora Unesp por contribuir significativamente com meu trabalho de conclusão de curso da graduação, em que pesquisei a obra de Levi. A publicação dos ensaios do escritor foi fundamental para o avanço das minhas pesquisas.
Para além disso, A assimetria e a vida contribui para a compreensão da condição humana e para o não apagamento da memória da catástrofe causada pelas guerras. Para Levi, deve-se rememorar para não repetir, e nos lega as seguintes palavras: “O homem é e deve ser sagrado para o homem, em qualquer lugar e sempre”.
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