Estudo mostra como os imigrantes italianos se descobriram italianos no Brasil

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terça-feira, 10 de maio de 2016

Italianidade no interior paulista analisa os caminhos que levaram à construção de uma identidade própria que impactou toda a sociedade brasileira

Quando uma obra que aborda um tema bastante estudado e comentado, com o é o caso da imigração italiana, provoca o leitor e produz novas indagações, o campo todo se revitaliza e o horizonte de entendimento é ampliado. Tal efeito se verifica em Italianidade no interior paulista: percursos e descaminhos de uma identidade étnica (1880-1950), lançamento da Editora Unesp, em que Oswaldo Truzzi direciona suas pesquisas para as sutilezas desse processo. Como afirma Angelo Trento no prefácio, o autor "propõe um tema até agora pouco questionado no Brasil pela historiografia imigratória e se interroga sobre os caminhos pelos quais os italianos [...] primeiro constroem e depois assimilam, em um período de setenta anos, uma identidade étnica própria, e sobre como isso incide sobre os descendentes e, até mesmo, sobre a sociedade que os acolheu".

Truzzi começa por deslocar seu foco da capital para o interior, destino da maior parte dos italianos que aqui aportaram, atraídos pelos incentivos oferecidos pela economia cafeeira. Cabe lembrar que, no começo do século XX, não apenas a maior parte dos italianos estava domiciliada fora da capital, mas, principalmente, que algumas cidades tinham porcentagens altíssimas de italianos em sua população: em 1902, por exemplo, cerca de metade da população de Ribeirão Preto era formada por imigrantes italianos. 

Outro aspecto importante é a diversidade da procedência dos italianos que aqui chegaram. Mesmo que os primeiros imigrantes fossem predominantemente do Vêneto – uma população mais católica que republicana, diferentemente daqueles que rumaram para a Argentina –, logo vieram contingentes expressivos oriundos de regiões do sul da Itália. Junto a essa heterogeneidade, soma-se o fato de o processo de unificação italiano ser então recente. Com isso, a identidade italiana dessas pessoas é construída fora da Itália, em solo brasileiro. Nesse processo, forma-se uma ética do trabalho própria, até então ausente por aqui, e que vai influenciar toda a sociedade brasileira com a perspectiva de que o trabalho é algo a ser valorizado. 

É na formação desse sentimento de italianidade que Truzzi amarra a sua narrativa, analisando as relações entre imigrantes e negros e salientando as variadas formas de como esse fenômeno se concretizou, principalmente as diferenças entre as inserções rural e urbana dessas famílias. Segue com os abalos sofridos por essa italianitá all’estero, especialmente diante da emergência do fascismo na Europa e pela política varguista durante a II Guerra Mundial. E chega à década de 1990, quando os descendentes desses oriundi buscam resgatar essa identidade. Para completar, Italianidade no interior paulista traz ainda um vasto material iconográfico para consulta e faz uma revisão crítica da bibliografia existente sobre o tema.

Oswaldo TruzziSobre autor - Oswaldo Truzzi, professor titular da Universidade Federal de São Carlos e pesquisador do CNPq, dedica-se principalmente ao tema da sociologia e história social das migrações. Pela Editora Unesp, publicou Patrícios – sírios e libaneses em São Paulo, Atlas da imigração internacional em São Paulo (1850-1950), Roteiro de fontes sobre a imigração em São Paulo (1850-1950) e Repertório da legislação brasileira e paulista referente à imigração, estes últimos em coautoria.

Título: Italianidade no interior paulista Percursos e descaminhos de uma identidade étnica (1880-1950)
Autor:  Oswaldo Truzzi
Número de páginas: 137
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ 38,00
ISBN: 978-85-393-0622-0

Assessoria de Imprensa da Fundação Editora da Unesp