Norteado pela questão, Ivan Domingues empreende um vasto ensaio metafilosófico que, ao final, traz luz sobre a história das ideias no Brasil e sobre a formação cultural do país
“Existe uma filosofia brasileira?”, pergunta Ivan Domingues. Para lançar luz a essa questão, em Filosofia no Brasil: legados e perspectivas – Ensaios metafilosóficos, lançamento da Editora Unesp, o autor lança mão do ensaísmo como ferramenta literária. Seu objetivo é uma reflexão filosófica sobre a filosofia, um texto metafilosófico cujo “objeto, no caso, é a filosofia brasileira ou, mais precisamente, o problema filosófico da existência ou não de uma filosofia no Brasil, justificando o qualificativo de brasileira”, afirma.
Ao longo de seis capítulos, “dispostos em passos argumentativos com unidade temática”, como define Domingues, reserva ao primeiro o “delineamento do argumento metafilosófico da filosofia nacional e seus recortes temporais, em que o propósito dos ensaios é debatido e a metodologia justificada”. Atento ao percurso da história das ideias em nossas terras, da época da colônia aos nossos dias, todo o empenho analítico – verdadeiro desafio pessoal – consiste em cruzar a história intelectual e a investigação metafilosófica, ao se perguntar pela ratio filosófica e pela experiência do filosofar, elas mesmas variáveis, exigindo uma cuidadosa reconstrução contextual, de que se ocuparão os cinco capítulos seguintes, da focalização do problema ao desenho de perspectivas.
Oswaldo Giacoia Junior anota no prefácio da obra que “Ivan Domingues faz livre uso dos tipos ideais de Max Weber para, levando em conta os fatores específicos da história do Brasil, descrever a formação de um conjunto de escolas de pensamento e modelos típicos de intelectuais, cuja especificação e ordem de aparecimento acompanham as vicissitudes e transformações estruturais da história nacional”. É nesse contexto que o livro evoca o intelectual orgânico da igreja ou o jesuíta, na época da colônia; o diletante estrangeirado remanescente do direito nos tempos do Império e da República Velha; o scholar ou o virtuose modelado pela Missão Francesa na tecla inaugurada com a fundação da USP e que mais tarde se espalhará no restante do país, protagonizada pela CAPES e o CNPq; o filósofo intelectual público, na esteira de Zola e da 3ª República francesa, tendo irrompido na cena brasileira a partir dos anos sessenta, no ambiente de resistência à ditadura; e o intelectual cosmopolita globalizado, este procurado no futuro e não mais no passado, como é o caso das quatro figuras anteriores. “Esses tipos”, como conclui Giacoia, “seriam também encontráveis em outras culturas, mas não na mesma sequência e do mesmo modo que no Brasil. É isso o que torna a obra única”.
Sobre o autor – Ivan Domingues é doutor em filosofia pela Universidade de Paris 1 e pós-doutor pelas universidades de Oxford e Notre Dame. Atua como professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde coordena o Núcleo de Estudos do Pensamento Contemporâneo, dedicado à análise de questões do mundo atual a partir de uma abordagem transdisciplinar. É autor de, entre outras obras, O grau zero do conhecimento: o problema da fundamentação das ciências humanas (1991), Epistemologia das ciências humanas (2004) e O continente e a ilha: duas vias da filosofia contemporânea (2ª edição, no prelo).
Título: Filosofia no Brasil: legados e perspectivas – Ensaios metafilosóficos
Autor: Ivan Domingues
Número de páginas: 561
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ 89,00
ISBN: 978-85-393-0667-1