Para esse moralista e também naturalista, o bom governo e a tirania jamais se confundem, e seria trágico querer tomar esta última, deplorável exceção, como regra ou verdade do governo dos povos
O barão de Holbach tem lugar garantido na história do materialismo moderno. Amigo de Diderot, enciclopedista ocasional, interessado em mesma medida pela moral e pelas ciências físicas, o barão foi figura de destaque nos círculos intelectuais franceses da segunda metade do século XVIII. De sua lavra, a Editora Unesp lança, agora, Etocracia ou o governo fundamentado na moral, obra de título inusitado e proposta original, que desenha uma aliança inquebrável entre a moral e a política. O que está em jogo, para o barão, é nada menos que a velha arte de governar, que ele apresenta em novas roupagens, apelando a uma ordem natural onipresente que é também, em grande medida, onipotente.
“O título desta obra anuncia seu objetivo: ele é composto de duas palavras gregas, ΕΘΟΣ, costumes, eΚΠΑΤΟΣ, força, poder, domínio, governo”, anota o autor. “Acreditamos poder empregar essa palavra para designar um ensaio, um projeto de união entre moral e política, a ideia de uma legislação em conformidade com a virtude, que possa ser igualmente vantajosa para os soberanos, para os súditos, para as nações, para as famílias e para cada um dos cidadãos. Ousamos nos gabar de não ter, neste ensaio, proposto nada de quimérico, ou que não possa ser facilmente executado por todo legislador sinceramente animado pelo desejo de fazer a felicidade de seu povo – assim é o monarca benfazejo e justo que é, atualmente, a esperança e o consolo dos franceses.”
Ao longo da obra, Holbach roga a seus leitores, sobretudo, que deem ouvidos à Natureza. Para esse moralista, que é também um naturalista, o bom governo e a tirania jamais se confundem, e seria trágico querer tomar esta última, deplorável exceção, como regra ou verdade do governo dos povos. “O poder absoluto, do qual tantos maus príncipes comumente abusam, torna-se nas mãos de um soberano justo uma arma necessária para destruir os esforços e os complôs da iniquidade”, pontifica Holbach.
Etocracia foi escrito em 1776, mas cala fundo numa época como a nossa, em que a hipocrisia, travestida de piedade, provoca a ruína dos Estados e os soberanos indignos desse nome tratam os súditos como números, abstrações para as quais a busca pela felicidade não tem sentido algum. Diderot gostava de repetir Shaftesbury e dizer que os ateus, eles também, podem ser virtuosos. A obra de seu amigo Holbach é uma excelente ilustração desse dito.
Sobre o autor - Escritor, filósofo e enciclopedista, Paul-Henri Thiry, o barão de Holbach (1723-1789), foi um importante expoente do Iluminismo na França. De origem alemã e expressão francesa, ficou conhecido por seu pensamento materialista e suas fortes convicções antirreligiosas. Holbach manteve um salão literário em Paris que foi um importante ponto de encontro dos intelectuais da época, frequentado por nomes como Diderot, D’Alembert, Buffon e Rousseau, entre outros.
Título: Etocracia ou o governo fundamentado na moral
Autor: Barão de Holbach
Tradução: Regina Schöpke e Mauro Baladi
Número de páginas: 240
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 68
ISBN: 978-65-5711-125-3