Ao concatenar ideias em um passeio pelos primórdios da filosofia, pensador detalha o método de ‘pensar por figuras’, fundamental para superar a encruzilhada entre história e filosofia
“Pode ser que somente se possa pensar dentro de formas herdadas. Mas isso não significa que devemos nos contentar em apenas aceitar a herança”, provoca o filósofo Francis Wolff na abertura de seu Pensar com os antigos: uma riqueza de todo o sempre, lançamento da Editora Unesp. Nesta obra, ele propõe um método para escapar da dificuldade constante na expressão “história da filosofia”, na qual se impõem dois caminhos: estudar um texto de forma historicizante, sem exigir dele o objetivo filosófico de uma verdade duradoura, ou a partir de seu âmbito filosófico e negligenciando a distância histórica. “Se pensarmos com a filosofia antiga, talvez seja possível filosofar hoje em dia. Tomar emprestado dos antigos é pegar deles o que continua sendo deles, portanto é tentar lê-los fielmente, adequando nosso olhar histórico sobre eles, mas é também tentar compreendê-los por completo, integrando seu pensamento ao nosso.”
Para Wolff, o método mais adequado é o de pensar por figuras. “Pelo conceito de ‘figuras filosóficas emprestadas dos antigos’, nossa pretensão era sair dessas alternativas e encontrar uma maneira de fazer filosofia sem abrir mão das exigências legítimas da história”, anota. “Como se existissem figuras de pensamento que atravessassem a história. Elas parecem existir para nós em um espaço puramente lógico, mesmo que, notoriamente, apenas tenham sido possíveis por e na história; e podemos tomá-las por invariáveis, mesmo que sua forma de realização seja sempre historicamente variável.” A partir disso, descreve, a ontologia se constitui e se perde ao se dividir entre dois caminhos, Demócrito ou Platão: uma via física ou uma via lógica.
Ao longo de nove capítulos, o autor tenta identificar algumas das encruzilhadas da história do pensamento grego e as configurações problemáticas correspondentes. Em cada configuração, distingue várias vias históricas que analisa concomitantemente como figuras filosóficas. “Fazer figuras filosóficas (contemporâneas ou atemporais) de vias antigas é o que podemos chamar emprestá-las dos antigos”, propõe Wolf. A concatenação dessas oposições é um dos mais radicais desafios da filosofia, e um dos méritos do passeio de Wolff pelos antigos é apresentar uma possível alternativa de superação.
Sobre o autor – Francis Wolff nasceu na França em 1950. É filósofo e professor emérito da École Normal Supérieure de Paris. De 1980 a 1984, lecionou Filosofia Antiga na Universidade de São Paulo. Pela Editora Unesp, publicou Nossa humanidade (2013) e Três utopias contemporâneas (2018).
Título: Pensar com os antigos: uma riqueza de todo o sempre
Autor: Francis Wolff
Tradução: Mariana Echalar
Número de páginas: 324
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 82
ISBN: 978-65-5711-056-0