Obra – incontornável para quem estuda as relações ítalo-brasileiras – percorre e analisa toda a história do intercâmbio proporcionado pela imigração italiana em diferentes momentos
A relação entre Brasil e Itália e o associado fluxo de pessoas entre os dois países, resultando em estadas transitórias ou em residência permanente, remonta ao século XVI, período da chegada dos europeus a terras brasileiras. Religiosos, comerciantes, aventureiros, cientistas, cartógrafos e até foragidos italianos por aqui já circulavam nos primeiros dois séculos de colonização portuguesa. Após um século de baixa nessas relações de intercâmbio, no século XIX o afluxo de italianos ganhou envergadura, culminando, a partir de 1887, na intensificação desse movimento, conhecido como “a grande emigração”. É sobre estas relações que o historiador Angelo Trento, professor aposentado de História da América Latina na Università degli Studi di Napoli L’Orientale, debruça-se em Do outro lado do Atlântico: um século de imigração italiana no Brasil, lançamento da Editora Unesp.
“Podemos falar de presença italiana no Brasil desde a época do seu descobrimento e não apenas por causa dos navegantes que velejaram ao longo das suas costas durante os primeiros decênios do século XVI, mas também porque não era raro encontrar, nos primeiros duzentos anos depois da descoberta, mercadores, arquitetos, engenheiros, missionários e membros de ordens religiosas, entre os quais os mais atuantes foram os jesuítas”, anota Trento. “Também já estava presente a categoria dos refugiados políticos que lá haviam fixado residência: os irmãos Adorno, foragidos de Gênova e dedicados com grande tino comercial ao cultivo da cana-de-açúcar; os Doria; os florentinos Cavalcanti e Accioli; os Burlamacchi. Ao lado desses nomes ilustres, as crônicas registram a presença esparsa de cosmógrafos, marinheiros e militares.”
É a partir destes “antecedentes” que Trento começa sua jornada, ao fazer um grande apanhado que atravessa do século XVI até o XIX. Em seguida, passa a discorrer sobre os destinos regionais para onde foram os italianos recém-chegados, as classes sociais dos centros urbanos, a vida coletiva e os processos de assimilação cultural, as relações com o movimento operário, o período entre a primeira e a segunda guerras mundiais e, por fim, o pós-Segunda Guerra.
Na Itália, agentes intermediários, que lucravam com o fluxo migratório, pintavam o Brasil, com destaque para São Paulo, como uma maravilha, um paraíso de fartura e oportunidades para uma classe camponesa empobrecida em terras italianas. No Brasil, a demanda nas lavouras aumentava, especialmente após o decreto do fim da escravidão: essa procura, atrelada a uma intenção bastante explícita de branqueamento populacional, se voltava a trabalhadores experientes na produção agrícola, sobretudo a cafeeira, mas também para atender o parque industrial nascente e em crescimento vigoroso nas terras paulistas. As condições de trabalho, claro, eram radicalmente distantes do sonho dourado que motivou o embarque de muitos dos que migraram.
A presença maiúscula de famílias nas ondas migratórias italianas com destino ao Brasil denotava a intenção dessas pessoas de por aqui estabelecer residência. Isso de fato ocorreu e hoje os rastros dessa “italianidade” são componentes indeléveis da personalidade de cidades brasileiras, especialmente das regiões Sudeste e Sul. O século XX transformou esses imigrantes em antepassados de gerações de brasileiros, fundamentais para a história do País.
Sobre o autor – Angelo Trento é professor aposentado de História da América Latina na Università degli Studi di Napoli L’Orientale, onde lecionou desde 1992. Também é autor de Imprensa italiana no Brasil, séculos XIX-XX (EdUFSCar, 2013).
Título: Do outro lado do Atlântico: um século de imigração italiana no Brasil
Autor: Angelo Trento
Tradução: Mariarosaria Fabris, Luiz Eduardo de Lima Brandão e Juliana Haas
Número de páginas: 596
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ 98
ISBN: 978-65-5711-126-0
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