A relíquia de Eça de Queirós é um dos cinco títulos que marcam a estreia da Editora Unesp na literatura, juntamente com outros clássicos como Machado de Assis, Edgar Alan Poe, Lima Barreto e Maupassant
Considerado o maior expoente do realismo português e reconhecido pela crítica literária como um dos grandes romancistas de sua geração, Eça de Queirós (1845-1900) nasceu na pequena cidade balnear Póvoa de Varzim, na região norte de Portugal, e cursou Direito na Universidade de Coimbra. Após a graduação, exerceu a advocacia em Lisboa até tornar-se editor de um jornal da província de Évora. Embora dedicasse seus artigos aos costumes tradicionais, a banalidade da vida provinciana logo o aborreceu. Em busca de novas experiências, o escritor partiu em viagem pelo Egito e pela Palestina, percurso que possivelmente tenha deixado ecos em ao menos dois de seus trabalhos: as anotações dessa jornada são aproveitadas em seu livro de estreia, O mistério da estrada de Sintra, lançado em 1870, e reavivadas em A relíquia, que ganha agora nova edição pela Editora Unesp, com a inédita Coleção Clássicos da Literatura Unesp.
Aventurando-se por uma literatura que fugia à rigidez da estética realista, Eça de Queirós publica O mandarim (1880), que inaugura o caráter fantasista e cômico da sua obra. Mas é em A relíquia que o autor, retomando suas experiências como viajante no Oriente Médio, explora com notável habilidade os recursos da fantasia para discutir dilemas morais objetivos, deixando claro a manifestação dessa tarefa no subtítulo escolhido: Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia. O livro foi publicado em capítulos em 1887 pela Gazeta das Notícias, periódico que circulava no Rio de Janeiro, e ganhou edição em volume único no mesmo ano. Considerado um dos textos mais irreverentes do mestre do realismo lusitano, o livro recorre ao humor e à fantasia para traçar uma crítica à religião católica e aos tipos picarescos de Portugal.
Em A relíquia, o jovem bacharel e órfão Teodorico Raposo vive às expensas da tia beata e avarenta, esperando um dia herdar-lhe a fortuna. Dissimulando devoção religiosa, mas sem abrir mão de prazeres mundanos, Raposão (como o chamavam os mais íntimos) atende ao pedido de Titi e parte em peregrinação pela Terra Santa em busca de uma relíquia sagrada. Acompanhado por Topsius, um arqueólogo alemão, Teodorico percorre o Oriente Próximo em incontáveis peripécias. A mais enigmática e fantasista delas se passa em Jerusalém, onde testemunha o exotismo da Páscoa cristã.
Pela investigação do provincianismo sufocante, do fervor religioso e das negociações afetivas e morais, Eça de Queirós situa-se na melhor tradição inaugurada em 1857 por Madame Bovary, de Flaubert. No entanto, as características que tornam A relíquia uma obra especial no exame dos detalhes pitorescos da paisagem humana são seu estilo, que combina ironia com descrição lírica e, sobretudo, sua capacidade única de nos fazer rir e questionar.
Em cuidadosa edição cotejada com outras versões e apurado projeto gráfico, o livro traz uma apresentação sobre o autor e o contexto da obra, como um convite para o deleite da leitura.
Sobre a coleção - Clássicos da Literatura Unesp constitui uma porta de entrada para o cânon da literatura universal. Não se pretende disponibilizar edições críticas, mas simplesmente volumes que permitam a leitura prazerosa de clássicos. A seleção de títulos é conscientemente multifacetada e não sistemática, permitindo o livre passeio do leitor. Já estão publicados outros quatro títulos: Contos, de Guy de Maupassant, Histórias extraordinárias, de Edgar Allan Poe, Quincas Borba, de Machado de Asssis, e Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.
Título: A relíquia: sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia
Autor: Eça de Queirós
Número de páginas: 256
Formato: 13,4 x 20,2 cm
Preço: R$ 50,00
ISBN: 978-85-393-0832-3